O mapeamento foi apresentado durante a 28ª. Conferência das Nações Unidas para Alterações Climáticas (COP28), no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
A criação de gado é a principal causa da desflorestação na região amazónica em toda a América do Sul, aponta um estudo da organização Rede Amazónica de Informação Socioambiental Georreferenciada, com apoio do MapBiomas.
O estudo utilizou imagens de satélite para averiguar o uso da terra numa área de 844 milhões de hectares da América do Sul, que correspondem aos 47% do continente por onde se estende a Amazónia e as nascentes dos seus principais rios, comparando dados recolhidos entre os anos de 1985 e 2022.
três em cada quatro hectares desflorestados nas áreas analisadas foram ocupados por pastos.
“O levantamento mostra que dos 86 milhões de hectares de vegetação natural desflorestados no território analisado, 84 milhões foram convertidos em áreas agropecuárias e de silvicultura, com destaque para pastagem, que ocupa 66,5 milhões de hectares da área devastada entre 1985 e 2022, ou seja, 77% da área desflorestada”, informa o Mapbiomas.
O mapeamento indicou que a substituição do uso da terra para pasto atinge prioritariamente a floresta amazónica, já que apenas seis milhões de hectares desflorestados no período eram de formações não florestais.
Entre 1985 e 2022, a área ocupada pela agropecuária no Brasil cresceu 50% nesse período, avançando sobre 95,1 milhões de hectares – extensão superior ao terceiro maior estado brasileiro, Mato Grosso, e o equivalente a 10,6% do território brasileiro.
Em 1985, a atividade respondia por pouco mais de um quinto (22%) da área do Brasil, ou 187,3 milhões de hectares. Em quase quatro décadas essa área disparou para 282,5 milhões de hectares, ou um terço do território brasileiro. Desse total, 58% são de pastagens, que tiveram um crescimento de mais de 60% entre 1985 (103 milhões de hectares) e 2022 (164,3 milhões de hectares).

61,9% do território analisado (521,9 milhões de hectares) está localizada no Brasil, observando ainda os limites do bioma amazónico na Colômbia e na Venezuela; e os limites da bacia amazónica no Equador, Peru e na Bolívia.
A área de cultivo agrícola aumentou 41,9 milhões de hectares em todo o Brasil entre 1985 e 2022, passando de 19,1 milhões de hectares para 61 milhões de hectares. A expansão foi de aproximadamente duas vezes a área do estado do Paraná. A quase totalidade (96%) é de lavouras de grãos e cana, que triplicaram em 38 anos. Em 1985, ocupavam 18,3 milhões de hectares; em 2022, sua área equivalia a 7% do território nacional, ou 58,7 milhões de hectares. Desse total, 35 milhões de hectares são do avanço da soja que, sozinha, aumentou a área cultivada quatro vezes, sem deixar de mencionar a segunda safra de milho, que é cultivada após a colheita da soja.
Por isso, embora os dados mostrem que 81,4% do território da Amazónia ainda estão cobertos por vegetação natural, apenas 73,4% são florestas, percentagem que já está dentro da faixa estabelecida pela ciência como limite para que a maior floresta tropical do planeta entre num processo de ‘savanização’.

As imagens de satélite também indicaram que houve um forte avanço de atividades de mineração, que cresceram 1.367% entre 1985 e 2022, atingindo meio milhão de hectares.
Outra mudança na América do Sul no período analisado é a retração de 48% dos glaciares na região, decorrente do aquecimento global agravado pela desflorestação da Amazónia para a expansão de atividades económicas.