A crise climática está longe de ser “neutra em termos de género”: mulheres e homens são afetados de maneiras diferentes pelo tempo e pelas alterações climáticas, e, portanto, necessitam de informações e serviços sensíveis ao género, afirma Celeste Saulo, Secretária-Geral da Organização Meteorológica Mundial, durante o evento International Gender Champions (IGC), organizado pela Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, e que se destinou a lançar o Grupo de Impacto organizado do IGC.

O International Gender Champions (IGC) foi formado em 2015 como uma rede de liderança para tornar a igualdade de género uma realidade prática. Atualmente, conta com mais de 320 “campeãs” ativas e mais de 400 alumni, que são líderes de organizações internacionais, missões diplomáticas permanentes e organizações da sociedade civil.

De acordo com Celeste Saulo, “mulheres e meninas são desproporcionalmente afetadas pelas alterações climáticas e por desastres relacionados com o clima. Além disso, sabemos que têm menos acesso a informações climáticas, alertas antecipados, serviços de consultoria agrícola, tecnologia de telemóvel e crédito financeiro”.

A Secretária-Geral da Organização Meteorológica Mundial deu o exemplo de que mais mulheres do que homens morreram no tsunami no Oceano Índico em 2004 porque eram menos propensas a saber nadar e as roupas longas que envergavam dificultaram os seus movimentos.

Da mesma forma, o número de vítimas femininas superou as masculinas numa proporção de 14:1 na sequência do ciclone Gorky no Bangladesh, em parte devido ao acesso insuficiente à informação e aos alertas precoces.

Informação chega de modo diferente

O modo diferente como a informação climática chega às mulheres fez com que um ciclone em 1991 na região da Ásia Central tenha resultado em mais de 138 mil mortes, 90% das quais foram mulheres e crianças; a taxa de mortalidade das mulheres entre os 20 e os 44 anos foi de 71%, em comparação com 15% para os homens, o que significa, naquela época, que as mulheres tinham uma taxa de mortalidade cinco vezes maior que os homens. “Esta é uma prova clara de como as alterações climáticas estão relacionadas com a desigualdade e as vulnerabilidades”, sublinha a argentina Celeste Saulo, que é a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária-Geral da Organização Meteorológica Mundial.

“Estou determinada em usar minha voz como campeã internacional de género para garantir que as considerações de género sejam integradas nas políticas climáticas. Não temos tempo a perder. Estamos na interseção da desigualdade e das alterações climáticas e as nossas estratégias devem refletir a urgência do momento”, afirmou Celeste Saulo.

Um case study no Senegal mostrou que apesar de todos os agricultores precisarem de informações sobre o início da estação das chuvas e duração da estação chuvosa, as agricultoras precisavam adicionalmente de informações sobre previsões de défice de chuvas e o término precoce da estação chuvosa, pois isso poderia ser devastador para elas, já que plantam os seus campos um mês depois dos agricultores do sexo masculino.

“Muitos dos programas da OMM para fortalecer a adaptação climática passam por procurar enfrentar as barreiras enfrentadas por mulheres e comunidades marginalizadas no acesso a recursos e ferramentas de tomada de decisão”, enfatiza Celeste Saulo.

Por exemplo, o Serviço Meteorológico de Fiji – de acordo com a política do governo local – está a trabalhar para integrar a questão de género na prestação de sistemas de alerta precoce, graças ao apoio de parceiros como o Climate Risk Early Warning Systems (CREWS).

Esta responsável destaca que há um enorme potencial não explorado para aproveitar o papel das mulheres como líderes climáticas e defensoras da resiliência climática e do desenvolvimento sustentável.

“As mulheres são muito eficazes na mobilização de comunidades em caso de desastres. Elas estão na linha de frente na promoção da recuperação. Além disso, as mulheres detêm conhecimentos fundamentais na gestão de recursos naturais e são atoras-chave na adaptação e mitigação climáticas”, complementa.

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