Uma análise feita por cinco das maiores organizações ambientalistas europeias revela que apenas uma minoria dos deputados do Parlamento Europeu agiu para proteger o clima e a natureza e para reduzir a poluição na União Europeia, durante o mandato de 2019 a 2024.

Os dados são claros: a maioria dos eurodeputados agiu como procrastinador ou pensador pré-histórico, atrasando a ação necessária, votando de forma irregular e inconsistente ou, pior ainda, falhando completamente no apoio às iniciativas que visam fortalecer a capacidade da UE para enfrentar o desafio das diferentes crises que se lhe colocam no presente e no futuro.

“Com a partilha desta informação, as organizações estão a fornecer a todos os europeus a possibilidade de responsabilizarem os seus representantes políticos pelo seu recente desempenho parlamentar e exigirem uma maior ambição do Parlamento Europeu nos próximos anos, dando força àqueles que apoiaram os valores defendidos pelos cidadãos”, afirmam as organizações.

A BirdLife Europe, a Climate Action Network Europe, o European Environmental Bureau, a Transport & Environment e o Gabinete de Política Europeia da WWF analisaram os registos de votação do Parlamento Europeu dos últimos cinco anos para fornecer aos cidadãos uma panorâmica interativa que classifica todos os partidos políticos nacionais e grupos parlamentares europeus com base no seu desempenho em termos de votação: o Barómetro do Parlamento Europeu.

Barómetro do Parlamento Europeu

O Barómetro do Parlamento Europeu analisa o voto individual de cada eurodeputado durante a legislatura de 2019-2024 e classifica-o em relação às recomendações de voto das cinco organizações ambientais europeias sobre 30 dossiers políticos, que incluem legislação fundamental em matéria de clima, natureza e poluição. Desta forma, é possível conhecer o compromisso de cada deputado e, em particular do grupo político em que se enquadra, com a sustentabilidade ambiental. O resultado máximo é de 100 pontos.

Os resultados podem ser consultados: por grupo político para o conjunto da UE; por grupo político por país; por partido político em cada país.

Cada uma destas análises pode ainda ser feita para o conjunto dos 30 dossiers políticos analisados, para os 12 dossiers políticos centrados na transição com impacto neutro no clima e socialmente justa, para os 8 dossiers centrados numa Europa positiva para a natureza e para os 10 dossiers centrados na economia circular e na transição para a poluição zero.

Principais resultados

Segundo os dados apurados pelos ambientalistas, existe diversidade e nuances no seio dos grupos políticos e dos partidos nacionais e é possível encontrar protetores em todo o espectro político, com exceção da extrema-direita.

As pontuações que se seguem são baseadas em valores agregados e a repartição completa de cada grupo, partido e voto pode ser consultada no Barómetro do Parlamento Europeu.

OS PROTETORES
● Verdes | Aliança Livre Europeia: 92/100
● A Esquerda: 84/100
● Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas: 70/100

OS PROCRASTINADORES
● Renovar a Europa: 56/100

OS PENSADORES PRÉ-HISTÓRICOS
● Partido Popular Europeu: 25/100
● Conservadores e Reformistas Europeus: 10/100
● Identidade e Democracia: 6/100

Principais resultados – Portugal

No caso dos eurodeputados portugueses, os dados indicam que os partidos que podem ser classificados como protetores são o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista. Entre os procrastinadores temos o Partido Comunista Português e entre os pensadores pré-históricos temos o Partido Social Democrata e Centro Democrático Social-Partido Popular.

OS PROTETORES
● BE | Aliança Livre Europeia: 91/100
● Partido Socialista | Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas: 79/100

OS PROCRASTINADORES
● PCP | A Esquerda: 67/100

OS PENSADORES PRÉ-HISTÓRICOS
● PSD | Partido Popular Europeu: 27/100
● CDS-PP | Partido Popular Europeu: 20/100

A análise dos ambientalistas indica que, de entre os partidos portugueses que entram na categoria de protetores, o BE e o PS estão acima da média europeia do seu grupo político. O PCP surge abaixo da média do seu grupo político, obtendo apenas a classificação de procrastinador e destoando assim do seu grupo, que na média europeia se classifica como protetor. Entre os pensadores pré-históricos, o PSD está dentro da média do seu grupo (ligeiramente acima) e o CDS-PP está abaixo.

O deputado Francisco Guerreiro, que foi eleito pelo PAN, mas que, entretanto, se tornou independente, é o único representante português no Grupo dos Verdes. Francisco Guerreiro é, aliás, o eurodeputado português que mais se destaca na defesa das políticas ambientais em Bruxelas, com um resultado global de 99/100 pontos. Contudo, foi uma decisão dos coordenadores desta iniciativa apresentar informação apenas sobre partidos e não sobre deputados independentes, pelo que o seu nome não é incluído. De qualquer modo, os resultados das suas votações foram integrados nos resultados globais do grupo europeu dos Verdes.

PSD rejeita análise que o coloca como “pensador pré-histórico”

A bancada do PSD no Parlamento Europeu rejeita acusações de organizações ambientalistas europeias que a colocam como das piores na proteção do clima e natureza neste mandato na União Europeia (UE), falando em 95% de votos a favor. Em reação enviada à agência Lusa, o grupo social-democrata no Parlamento Europeu sublinha que, “estatisticamente, entre 2019 e 2024, o PSD votou favoravelmente 95% das propostas legislativas do Pacto Ecológico Europeu”, num total de 39 apoiadas de 41.“Não é, por isso, rigorosa nem objetiva a comunicação feita por algumas organizações ambientalistas sobre o sentido de voto dos deputados do PSD relativamente às questões ambientais. Além dos dados estatísticos bem expressivos, fomos um verdadeiro motor de um dos textos mais importantes do mandato, a aprovação da Lei Europeia do Clima, a primeira do género no mundo e na qual o PPE [Partido Popular Europeu] teve um papel fundamental”, salienta citada pela nota a líder da bancada social-democrata, Lídia Pereira. A eurodeputada do PSD, que também é membro suplente da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar, vinca que a preocupação ambiental do partido “se baseia na realidade e nos factos não em utopias ou especulações que a todos prejudicam”.“Somos a favor da descarbonização, não a favor da desindustrialização”, salienta Lídia Pereira. Sobre a controversa Lei da Restauração da Natureza, que gerou muita discussão no Parlamento Europeu, a eurodeputada acusou os parlamentares socialistas e verdes de “postura extremista, radical e até irresponsável”, por ignorar setores afetados.

Artigo anteriorVoltalia começou construção de central fotovoltaica de 49,9 MW
Próximo artigoHydro Avintes faz alumínio com com 100%  de sucata pós-consumo