Se nada mudar, em breve teremos de encontrar outro símbolo para a chegada da primavera: nos últimos 20 anos, o número de andorinhas (em concreto as andorinhas-das-chaminés) diminuiu 36% em Portugal, segundo os dados do Censo de Aves Comuns, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Uma queda que a SPEA considera ser representativa do declínio generalizado de diversas espécies de aves migradoras de longa distância: cuco, picanço-barreteiro e rola-brava, por exemplo, viram também os seus números diminuir não só em Portugal, mas também em Espanha e na Europa em geral.

“Em plena crise da biodiversidade, termos acesso a informação atualizada sobre o estado das nossas espécies de aves comuns é uma enorme mais-valia,” diz Hany Alonso, técnico da SPEA e coordenador do Censo de Aves Comuns: “Ao olharmos para as aves comuns podemos compreender melhor o que se passa em nosso redor. Estas espécies vão ser as primeiras a dar-nos indicação de que alguma coisa não está bem.”

* Percentagem de variação na abundância estimada a partir da média das últimas 5 avaliações de tendências populacionais do Censo de Aves Comuns
** Rigal S et al. 2023. Farmland practices are driving bird population decline across Europe. PNAS 120: e2216573120

Aves migradoras como as andorinhas têm sofrido com as alterações climáticas, que afetam desde os sinais que estas espécies usam para iniciar a migração até à abundância dos insetos de que necessitam para alimentar as crias, explicam os especialistas.

“Estas espécies vão ser as primeiras a dar-nos indicação de que alguma coisa não está bem”

De acordo com esta associação, para além das aves migradoras, também aves comuns nos meios agrícolas, como o pardal, o peneireiro e a milheirinha estão em declínio nos últimos 20 anos, “devido à intensificação das práticas agrícolas, que têm vindo a artificializar os nossos campos, destruindo os mosaicos tradicionais que permitiam que a biodiversidade florescesse”.

Para travar estes declínios, enfatizam os ecologistas, será necessário restaurar a Natureza, implementar políticas que promovam práticas agrícolas sustentáveis, e adotar uma visão estratégica e de longo prazo no ordenamento do território, no desenvolvimento energético, e nas avaliações de impacto.

No relatório do Censo de Aves Comuns foram avaliadas as tendências populacionais de 64 espécies de aves comuns em Portugal continental para o período 2004-2023. O relatório apresenta ainda uma comparação dessas tendências com a situação dessas mesmas espécies em Espanha e na Europa.

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