Com o aumento do número de veículos elétricos (VE) a circular – em julho de 2023, pela primeira vez, foram vendidos na Europa mais carros elétricos que a gasóleo -, torna-se indispensável incrementar o número de postos de carregamento e simplificar/ uniformizar a sua utilização e acesso.
Os carros elétricos já são incontornáveis quando falamos em mobilidade mais sustentável, cumprindo a jornada europeia da neutralidade carbónica, uma vez que as emissões dos VE são entre 17 e 30% inferiores às emissões dos automóveis a gasolina e diesel (dados da Agência Europeia do Ambiente).
Contudo, andar de carro elétrico ainda causa alguma ansiedade. Desde logo, por causa da autonomia e, depois, porque quando partimos para uma viagem e apesar da informação que algumas apps prestam, a verdade é que nunca temos a garantia que, no percurso e no destino, os carregadores estão disponíveis.
Sinais positivos: já existem mais de 500.000 estações de carregamento na Europa e que Portugal está em quinto lugar no número de postos por cada 100 km (são no total 7.200). Mas sendo certo que o número de VE excede os 6 milhões, ainda não atingimos um ponto em que os condutores possam ter a certeza onde farão o seu próximo carregamento. Até que a Europa resolva esta questão, a ansiedade sobre a autonomia perdurará.
Pelo que me tenho apercebido junto de utilizadores de carros elétricos, o problema não está nas deslocações diárias (ou mais curtas) entre casa e escritório, mas nas viagens mais longas, pela incerteza sobre onde estará a próxima estação de carregamento e se estará realmente disponível e a funcionar.
Recentemente, porque passei a conduzir regularmente um carro elétrico, encontrei outra camada para este problema. Na viagem que fiz, identifiquei uma estação onde podia parar e carregar o carro. No entanto, como principiante nestas coisas, deixei o cartão de carregamento noutra carteira e tive, por isso, de instalar uma app, inserir os meus dados de pagamento e verificar a minha nova conta antes mesmo de pensar em carregar o carro.
E a pergunta do milhão de euros (a versão original acho que é em dólares!) é: porque não consigo pagar o carregamento de um carro elétrico como pago qualquer combustível numa bomba automática, seja com um cartão contactless ou com um smartphone?
Novamente olhando pela positiva, com a entrada em vigor, prevista para abril deste ano, do Regulamento Europeu das Infraestruturas para Combustíveis Alternativos (AFIR), os postos de carregamento terão mesmo de disponibilizar estas opções de pagamento.
A tecnologia já está disponível, ou seja, os operadores já podem integrar nas suas estações de carregamento (incluindo nas já existentes), uma variedade de marcas de terminais de pagamento, sem a necessidade de grandes esforços de integração. É uma solução moderna de gateway de pagamento, interoperável e universal, que unifica a experiência do utilizador enquanto simplifica a integração do terminal de pagamento e o processamento de transações. É uma solução que serve todos os utilizadores porque assenta em opções de pagamento internacionais.
Portugal foi pioneiro com a criação da rede Mobi-e, que dinamizou o acesso e pôs todos os operadores a trabalhar na mesma rede. Faltou o elemento da uniformização da forma de pagar, passo que agora já pode ser dado. São boas notícias para todo o ecossistema.
Aproveitando o tema da mobilidade e do carregamento dos VE, vejo com expectativa a mesma revolução a ter lugar nos transportes públicos, onde devemos ter todos os operadores a disponibilizarem soluções de pagamento contactless. São soluções com elevados ganhos de eficiência e de qualidade de serviço, com uma melhoria significativa da experiência de utilização. Além disso, permitem a redução das emissões em diferentes pontos da cadeia de valor da mobilidade. E temos provas dadas disso mesmo, em implementações que fizemos em Évora, com a Trevo, em Lisboa, coma Fertagus, e, mais recentemente, com a Próximo, em Faro.
Perante os exigentes e ambiciosos objetivos da UE para 2035, ao nível da redução das emissões, a disponibilização de sistemas universais de pagamento para a rede de carregamento de carros elétricos e para a rede de transportes públicos são uma forma simples de contribuir eficazmente para alcançarmos mais depressa essas metas.
Foto de destaque por Maxim Hopman na Unsplash