Maria Antónia Saldanha
Maria Antónia Saldanha
Country Manager da Mastercard Portugal

Porque não consigo pagar o carregamento de um carro elétrico como pago qualquer combustível numa bomba automática, seja com um cartão contactless ou com um smartphone? Com a entrada em vigor, prevista para abril deste ano, do Regulamento Europeu das Infraestruturas para Combustíveis Alternativos (AFIR), os postos de carregamento terão mesmo de disponibilizar estas opções de pagamento.

Mobilidade, pagamentos e descarbonização

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Com o aumento do número de veículos elétricos (VE) a circular – em julho de 2023, pela primeira vez, foram vendidos na Europa mais carros elétricos que a gasóleo -, torna-se indispensável incrementar o número de postos de carregamento e simplificar/ uniformizar a sua utilização e acesso.

Os carros elétricos já são incontornáveis quando falamos em mobilidade mais sustentável, cumprindo a jornada europeia da neutralidade carbónica, uma vez que as emissões dos VE são entre 17 e 30% inferiores às emissões dos automóveis a gasolina e diesel (dados da Agência Europeia do Ambiente).

Contudo, andar de carro elétrico ainda causa alguma ansiedade. Desde logo, por causa da autonomia e, depois, porque quando partimos para uma viagem e apesar da informação que algumas apps prestam, a verdade é que nunca temos a garantia que, no percurso e no destino, os carregadores estão disponíveis.

Sinais positivos: já existem mais de 500.000 estações de carregamento na Europa e que Portugal está em quinto lugar no número de postos por cada 100 km (são no total 7.200). Mas sendo certo que o número de VE excede os 6 milhões, ainda não atingimos um ponto em que os condutores possam ter a certeza onde farão o seu próximo carregamento. Até que a Europa resolva esta questão, a ansiedade sobre a autonomia perdurará.

Pelo que me tenho apercebido junto de utilizadores de carros elétricos, o problema não está nas deslocações diárias (ou mais curtas) entre casa e escritório, mas nas viagens mais longas, pela incerteza sobre onde estará a próxima estação de carregamento e se estará realmente disponível e a funcionar.

Recentemente, porque passei a conduzir regularmente um carro elétrico, encontrei outra camada para este problema. Na viagem que fiz, identifiquei uma estação onde podia parar e carregar o carro. No entanto, como principiante nestas coisas, deixei o cartão de carregamento noutra carteira e tive, por isso, de instalar uma app, inserir os meus dados de pagamento e verificar a minha nova conta antes mesmo de pensar em carregar o carro.

E a pergunta do milhão de euros (a versão original acho que é em dólares!) é: porque não consigo pagar o carregamento de um carro elétrico como pago qualquer combustível numa bomba automática, seja com um cartão contactless ou com um smartphone?

Novamente olhando pela positiva, com a entrada em vigor, prevista para abril deste ano, do Regulamento Europeu das Infraestruturas para Combustíveis Alternativos (AFIR), os postos de carregamento terão mesmo de disponibilizar estas opções de pagamento.

A tecnologia já está disponível, ou seja, os operadores já podem integrar nas suas estações de carregamento (incluindo nas já existentes), uma variedade de marcas de terminais de pagamento, sem a necessidade de grandes esforços de integração. É uma solução moderna de gateway de pagamento, interoperável e universal, que unifica a experiência do utilizador enquanto simplifica a integração do terminal de pagamento e o processamento de transações. É uma solução que serve todos os utilizadores porque assenta em opções de pagamento internacionais. 

Portugal foi pioneiro com a criação da rede Mobi-e, que dinamizou o acesso e pôs todos os operadores a trabalhar na mesma rede. Faltou o elemento da uniformização da forma de pagar, passo que agora já pode ser dado. São boas notícias para todo o ecossistema.

Aproveitando o tema da mobilidade e do carregamento dos VE, vejo com expectativa a mesma revolução a ter lugar nos transportes públicos, onde devemos ter todos os operadores a disponibilizarem soluções de pagamento contactless. São soluções com elevados ganhos de eficiência e de qualidade de serviço, com uma melhoria significativa da experiência de utilização. Além disso, permitem a redução das emissões em diferentes pontos da cadeia de valor da mobilidade. E temos provas dadas disso mesmo, em implementações que fizemos em Évora, com a Trevo, em Lisboa, coma Fertagus, e, mais recentemente, com a Próximo, em Faro.

Perante os exigentes e ambiciosos objetivos da UE para 2035, ao nível da redução das emissões, a disponibilização de sistemas universais de pagamento para a rede de carregamento de carros elétricos e para a rede de transportes públicos são uma forma simples de contribuir eficazmente para alcançarmos mais depressa essas metas.

Foto de destaque por Maxim Hopman na Unsplash

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