Quando pensamos em migração de animais ou animais migratórios, é comum que as aves sejam as primeiras a vir à mente. Elas cruzam continentes e mares, desafiando distâncias impressionantes nas suas jornadas sazonais. No entanto, no reino animal, os peixes migratórios também desempenham um papel crucial nos ecossistemas aquáticos e na sustentabilidade ambiental. Estes peixes, que incluem espécies como salmões, enguias e esturjões, percorrem longas distâncias ao longo de rios e oceanos, contribuindo para a biodiversidade e a saúde dos habitats aquáticos. As suas migrações são vitais para a manutenção das cadeias alimentares e dos ciclos de nutrientes, além de terem grande importância económica e cultural para muitas comunidades humanas ao redor do mundo.
É precisamente isso que um relatório agora divulgado vem sublinhar: que o colapso das populações de peixes migratórios ameaça a segurança alimentar de milhões de pessoas e os ecossistemas críticos de água doce.
Sabia que…
… no próximo sábado se celebra o Dia Mundial da Migração de Peixes?
O documento salienta que desde 1970 se registou um declínio de 81% das populações de peixes migradores. A diminuição dos peixes de água doce regista-se em todo o mundo, mas as quedas mais acentuadas verificam-se na América Latina (91%), Caraíbas (91%) e Europa (75%).
Os cientistas referem que este colapso põe em risco a segurança alimentar e os meios de subsistência de milhões de pessoas, a sobrevivência de muitas outras espécies, e a saúde a resiliência dos rios, lagos e zonas húmidas.
Colapso dos peixes migratórios ameaça alimentação de milhões de pessoas
Os alertas fazem parte de um novo relatório do Índice Planeta Vivo, sobre peixes migratórios de água doce, publicado pela organização “World Fish Migration Foudation” e outras entidades, incluindo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e a “World Wide Fund for Nature” (WWF).
O Índice Planeta Vivo é um indicador global sobre o estado da biodiversidade, administrado pela Sociedade Zoológica de Londres em cooperação com a WWF.
No documento explica-se que metade das ameaças aos peixes migradores se relaciona com a degradação dos habitats, incluindo a construção de barragens e de outras barreiras nos rios, e a conversão das zonas húmidas para a agricultura. A sobre-exploração, o aumento da poluição e o agravamento dos impactos das alterações climáticas, estão também a diminuir as espécies de peixes migradores.
“O declínio catastrófico das populações de peixes migratórios é uma chamada de atenção para o mundo. Temos de atuar agora para salvar estas espécies fundamentais e os seus rios”, afirmou, citado num comunicado sobre o relatório, Herman Wanningen, da “World Fish Migration Foudation”.
Os especialistas referem, porém, que um terço das espécies monitorizadas aumentou, nomeadamente por melhor gestão de recursos, recuperação de habitats e remoção de barragens. Na Europa e nos EUA já foram removidos milhares de barragens, diques, açudes e outras barreiras fluviais. No ano passado a Europa removeu um recorde de 487 barreiras, um aumento de 50% em relação ao máximo anterior de 2022.
Para a World Fish Migration Foudation, os decisores de todo o mundo devem acelerar os esforços para proteger e restaurar os caudais dos rios, investindo em alternativas sustentáveis às barragens hidroelétricas que estão planeadas.