No ano passado, a União Europeia adotou regras para proibir a venda de automóveis novos com motores de combustão (a gasolina e a gasóleo), a partir de 2035. Ou seja, dentro de cerca de uma década, os únicos automóveis novos que poderão ser vendidos serão os 100% elétricos, cujas emissões de CO2 localmente são zero.
No entanto, com a Europa a ir a eleições a 9 de junho, num dos países onde a indústria automóvel tem mais peso há partidos que já anunciaram que se vão bater por adiar esta data.
Na Alemanha, as forças políticas irmãs de centro direita da União Democrata Cristã (CDU – da antiga chanceler Angela Merkel) e União Social Cristã (CSU), lançaram uma campanha contra esta proibição europeia para 2035, uma questão que estes partidos consideram ser crítica para as eleições europeias de junho.
“Somos um país automóvel”, AFIRMAM alemães conservadores
Nas europeias de 2019, a CDU, partido da antiga chanceler Angela Merkel, recebeu 28,9% dos votos com a CSU, os Verdes 20,5%, o SPD 15,8% e a AfD 11%, a Esquerda (Die Linke) 5,5% e o FDP 5,4%.
CDU e CSU, atualmente na oposição no Bundestag, o parlamento germânico, lideram as sondagens internas para as eleições europeias com 30%, ultrapassando as forças políticas que integram o governo (os sociais democratas do SPD de centro-esquerda, Aliança 90/Os Verdes e os liberais democráticos do FDP).
Considerando que a Alemanha é o país que mais deputados elege para o Parlamento Europeu (96 de um total de 705) esta intenção poderá ter algum peso nas discussões políticas europeias dos próximos cinco anos, pois CDU e CSU fazem parte do PPE (Partido Popular Europeu), o grupo político mais representado na configuração atual em Estrasburgo.
“Para nós, as eleições europeias são também um voto sobre o futuro do motor de combustão”, afirma Christoph Ploß, deputado da CDU, à Focus Online. Este partido lançou mesmo um site chamado “Sim ao carro”, onde os utilizadores são convidados a manifestar a sua posição, sobre se apoiam a revisão do prazo de 2035 para a venda de novos veículos a gasolina ou gasóleo.
“A proibição dos motores de combustão aprovada pelo SPD, pelos Verdes e pela Esquerda no Parlamento Europeu deve ser retirada”, defende a CDU.
No seu manifesto eleitoral, a CDU já se comprometeu a inverter a política, um apelo que, no entanto, não foi incluído no manifesto a nível da UE do Partido Popular Europeu.
“Os objetivos climáticos também podem ser alcançados muito bem com o motor de combustão”, disse Ploß, “por exemplo, através da utilização de combustíveis amigos do ambiente, sejam eles biocombustíveis, gasóleo sintético, como o biogénico HVO100, que já está disponível, ou e-fuels (combustíveis sintéticos) produzidos com base em eletricidade verde”.
Embora o gasóleo sintético baseado a 100% em HVO — Hydrotreated Vegetable Oil (HVO) ou Óleo Vegetal Hidrotratado (OVH) possa ser vendido nas estações de serviço alemãs desde abril de 2024, os críticos assinalam a disponibilidade limitada dos resíduos biológicos e dos resíduos necessários para produzir o combustível alternativo.
“Um combustível para o qual a gordura de fritura usada proveniente da Ásia é transportada para meio mundo para ser queimada aqui nos motores de combustão dos automóveis não é sustentável”, afirmou Jürgen Resch, diretor da ONG ambiental Deutsche Umwelthilfe, quando o combustível foi autorizado no mês passado.
Defesa de uma exceção para os e-fuels
Os e-fuels são combustíveis sintéticos produzidos com CO2 retirado da atmosfera ou de instalações industriais como as fábricas de cimento. Podem ser produzidos a partir da combinação de gás de hidrogénio (H2) e dióxido de carbono (CO2) e, segundo alguns peritos, poderiam oferecer uma solução em grande escala.
O e-combustível é um tipo de combustível sintético feito a partir de hidrogénio e dióxido de carbono, sendo uma alternativa aos combustíveis fósseis. Atendendo aos objetivos de neutralidade carbónica, este tipo de combustível é visto por muitos como uma maneira de manter vivos os motores de combustão.
A lógica é que, embora os e-fuels sejam utilizados como combustível nos automóveis, o que faz com que emitam CO2, a quantidade emitida é, supostamente, a mesma que foi capturada durante a produção, havendo assim um efeito de neutralidade. E o intuito é que sejam fabricados, com recurso a energia renovável.
Quando foram adotadas as novas normas de CO2 a nível da UE, o ministro dos Transportes alemão, Volker Wissing, do FDP, insistiu numa exceção para os automóveis movidos a e-fuels, que deveriam continuar a ser comercializados mesmo depois de 2035. Porém, essa pretensão não foi acolhida, pelo menos, para já, sendo isso também uma das razões das críticas da CDU à FDP.
Na realidade, essa hipotética isenção não foi implementada devido a uma disputa não resolvida (até à data) sobre se os e-fuels devem ser 100% neutros em termos de clima. A convicção de CDU e CSU é que isso venha a ser conseguido. O próprio ministro dos transportes germânico diz estar “convencido de que também os e-fuels contribuirão de forma importante para alcançar o difícil equilíbrio entre a mobilidade do maior número possível de pessoas e a proteção do clima”.
“A proibição dos motores de combustão pode prejudicar a prosperidade do nosso país”, afirmou o secretário-geral da CDU, Carsten Linnemann, numa entrevista ao Bild. “É como serrar o ramo onde estamos sentados”.
O secretário-geral da CSU, Martin Huber, tem opinião idêntica: “A proteção do clima exige abertura tecnológica e não proibições”.