Nalgumas ilhas do arquipélago de Cabo Verde, onde a chuva é muito escassa e cada gota é preciosa, há uma tradição de estender plásticos nas encostas em dias de nevoeiro. Isto porque as gotículas suspensas no ar colam-se aos plásticos, acabando por formar gotas maiores que escorrem para dentro de baldes para serem aproveitadas.

Uma associação cabo-verdiana da ilha da Brava, a menor das nove ilhas habitadas de Cabo Verde e também a mais inóspita e isolada, tem vindo a desenvolver um projeto destinado a capturar e aproveitar a humidade do nevoeiro.

A associação Biflores deslocou-se no final do ano passado às Canárias, no âmbito do projeto ibérico Life Nieblas (que também abrange Portugal), para aperfeiçoar e conhecer novas técnicas, tais como redes de condensação montadas em estruturas verticais, dado que nestas ilhas espanholas este método é usado.

O projeto de captação de água surge como resposta às secas severas na ilha que têm afetado sobretudo os agricultores e a conservação das espécies endémicas.

A associação fez há cerca de um mês a instalação do sistema de captação de água no nevoeiro e a monitorização dos resultados indica, para já que estão a conseguir ser recolhidos até 700 litros de água por dia a partir da condensação de nevoeiro, utilizando-a na alimentação do gado, informa Carlos Bango, membro da associação Biflores, à agência Lusa.

Os painéis esticados nos pontos altos recolhem entre 500 a 700 litros por dia, dependendo das condições climatéricas.

A expectativa dos promotores desta iniciativa, inicialmente, era captar até 400 litros de água por dia, mas depois de terem instalado três captadores e conseguirem quase o dobro, a associação de conservação da biodiversidade ficou ainda mais motivada com a ideia, estando a armazenar água em bidões e num reservatório de duas toneladas. A associação refere, inclusive, ter algumas análises que sugerem que Brava tem o potencial de coletar cerca de 2050 m3 de água por dia.

A associação tem vindo a implementar três tipos de coletores de humidade da neblina (individuais, tradicionais e inovadores).

A Biflores, que está a mobilizar parcerias para instalar mais captadores na ilha da Brava, refere que a água é canalizada para a comunidade local poder usá-la na alimentação do gado.

A associação vai também passar a alimentar um sistema de rega gota-a-gota para a restauração de plantas endémicas, como os dragoeiros e marmulanos, removendo, ao mesmo tempo espécies invasoras, que consomem muita água e que matam outras plantas endémicas, explica à Lusa um responsável.

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