O fantasma de um possível retrocesso na norma europeia que prevê que a partir de 2035 apenas se vendam viaturas 100% elétricas na Europa está a deixar os ambientalistas de sobreaviso. E preocupados. A portuguesa Zero considera que alcançar a meta de vender automóveis ligeiros de passageiros e de mercadorias 100% elétricos em 2035 é um objetivo perfeitamente viável. Francisco Ferreira, dirigente da associação, destaca que o desenvolvimento de veículos elétricos tem sofrido progressos significativos, incluindo melhorias na tecnologia de baterias, autonomia e infraestrutura de carregamento: “Esses avanços tornam os veículos elétricos uma opção mais viável e atraente para os consumidores”, indica.
“A viabilidade da meta de 2035 não é uma questão técnica, mas sim uma questão de vontade política e de compromisso com as políticas climáticas e industriais existentes”, diz a zero.
De acordo com informação atualizada da Federação de Transportes e Ambiente de que a Zero faz parte, na Europa, até ao ano de 2028 o mais tardar, os automóveis elétricos serão mais baratos que os veículos movidos a combustíveis fósseis. Em muitos casos, tal acontecerá antes, uma vez que os fabricantes de automóveis anunciaram uma dúzia de modelos de veículos elétricos acessíveis, abaixo de 25 mil euros, contruídos na Europa, entre 2025-2026: “Combinados com custos de funcionamento muito mais baixos, a transição para os veículos elétricos será irreversível. Ao contrário do que muitas vezes se diz, até 2035, os 100% veículos elétricos serão muito mais baratos de comprar e de utilizar do que os poluentes automóveis de combustão”, afirma Francisco Ferreira.
“Se a União Europeia decidir enfraquecer a sua regulamentação arrisca-se a desacreditar a agenda e as suas regras climáticas e a deixar os fabricantes de automóveis europeus incapazes de competir nos mercados nacionais e globais. As eleições na União Europeia deram a maioria à grande coligação que apoiou o Pacto Ecológico Europeu da Presidente da Comissão, Von der Leyen. Embora esteja sob pressão para enfraquecê-la, atrasar a transição para automóveis com emissões zero conduzirá a uma perda de investimento e deixará a indústria automóvel europeia menos competitiva e ainda mais atrás dos rivais globais”, afirma a Zero para quem “o Governo Português deve ativamente apoiar esta meta de vendas de automóveis novos exclusivamente elétricos em 2035.
Francisco Ferreira lembra que “muitos dos principais fabricantes de automóveis comprometeram-se a eliminar gradualmente os veículos a combustão e a aumentar a sua produção de veículos elétricos em antecipação ao prazo de 2035 a partir do qual não podem ser vendidos automóveis com motores de combustão. Esta meta é apoiada pela indústria face a investimentos significativos com que já se comprometeu e precisa de planeamento e certeza de investimento, em vez de quadros políticos instáveis”.
Para os ecologistas, “os fabricantes de automóveis europeus são líderes globais, representam um quarto das vendas globais, o que lhes confere o capital e o reconhecimento para terem sucesso no mercado de veículos elétricos”. O presidente da Zero lembra ainda que, em paralelo, “a legislação europeia determina que as principais autoestradas e estradas tenham carregadores rápidos suficientes ao longo dos próximos anos”.
Para a Zero, a União Europeia (UE) precisa de fazer duas coisas: “Em primeiro lugar, os fabricantes de automóveis e os políticos europeus precisam de estar firmemente empenhados na meta de venda exclusiva de automóveis de emissões zero em 2035 e de acelerar o desenvolvimento de modelos de automóveis elétricos, especialmente os mais acessíveis. A União Europeia não deve ser desviada por combustíveis sintéticos (ou e-combustíveis) e biocombustíveis poluentes, ineficientes e caros”. Em segundo lugar, refere a Zero, “a UE deve apoiar e recompensar o fabrico local de veículos elétricos e de baterias com um plano industrial verde para complementar o Pacto Ecológico Europeu. As políticas europeias devem recompensar a produção local mais sustentável, por exemplo, através de regras sobre a pegada de carbono. Essa estratégia industrial deverá também ser complementada por uma estratégia europeia para garantir o abastecimento de matérias-primas essenciais”.