► O estudo “O valor económico da água em Portugal” foi apresentado esta quarta-feira na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, tendo sido coordenado pelo economista e professor da Universidade “Católica-Lisbon” Miguel Gouveia.
► As duas instituições patrocinaram a investigação que pretende contribuir para a procura de soluções sustentáveis para a gestão da água.
► O evento de apresentação decorreu na Gulbenkian, tendo cabido o discurso de abertura a Filipe Santos, Dean da Católica-Lisbon.

A análise dos dados feita pelo estudo “O valor económico da água em Portugal”, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Universidade Católica, indica que o consumo urbano de água deverá aumentar cerca de 5,7% até 2030. Porém, atendendo a que a tendência é para escassez de água, é importante manter o consumo ao nível de 2022. Para isso, refere o estudo, “o preço da água terá de subir 25,7% até 2030, para uma média de 3,2 euros o metro cúbico, o que pode ser visto como o valor económico da água em consumo urbano”, diz o documento.

Na base do trabalho, referiu o responsável, está o facto de em Portugal a precipitação anual média ter diminuído 20% nos últimos 20 anos, prevendo-se que diminua mais 10 a 25% até final do século.

Além de outros, a escassez hídrica terá impacto direto no potencial de geração de hidroeletricidade, tornando a eletricidade mais cara, e “terá impactos macroeconómicos significativos, nomeadamente no PIB (num cenário de efeitos climáticos mais severos, o PIB poderá cair 3,2%), em aumentos das taxas de desemprego e inflação, e numa deterioração da balança comercial”.

“Vamos ter menos água, vai ser um processo gradual, apesar de em Portugal haver mais chuva do que em vários países da Europa”, notou o responsável, salientando que caso se invista em formas de não perder a água (mais albufeiras) poderá haver uma maior oferta. Sem investimento será o deserto a avançar pelo sul do país, alertou.

O coordenador do estudo, Miguel Gouveia, em declarações à agência Lusa, disse que para a redução de consumos são necessárias muitas campanhas de informação e sensibilização, a par de aumentos de preços.

“Percebo que se peça mais aos que têm mais”, diz o investigador à agência Lusa, referindo-se ao que alguns municípios já fazem, que é aumentar os preços nos escalões superiores de consumo.

A agricultura, o setor que mais consome, também terá de fazer um uso mais racional da água. “Tem de haver um esforço em todas as frentes”.

Miguel Gouveia lembrou que o progresso tecnológico levou a melhorias no consumo de água, que as máquinas de lavar consomem hoje muito menos água, ou que na agricultura o percurso é o mesmo. “Há 30 ou 40 anos o regadio gastava 14 mil metros cúbicos por hectare, hoje gasta quatro mil metros cúbicos”.

Na agricultura, salientou, o valor da água é muito superior ao custo na maior parte das vezes. Segundo o estudo, o valor económico médio da água usada na agricultura em todo o país e todas as culturas, a preços de 2022, foi estimado em 0,585 euros.

“Nem todos os investimentos são rentáveis e isso pode ver-se com este valor da água”, disse, salientando a importância de haver uma “boa análise custo benefício” das políticas publicas em discussão, para impedir riscos de desperdício.

O preço da água terá de aumentar 25,7% até 2030 para que se consiga manter o consumo urbano aos níveis de 2022, segundo um estudo apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Nas palavras de Miguel Gouveia, que cita a opinião de peritos, a reutilização de águas residuais tratadas faz sentido no Algarve, mas menos em outras regiões, porque a elevação dessas águas (as estações de tratamento, ETAR, ficam perto do nível do mar) tem um custo.

Da mesma forma as melhorias nas redes para evitar fugas também ficarão muito caras. “Não significa que não vale a pena investir, significa que não vamos ter grande retorno”, explicou.

Os transvases podem ser uma solução, e a construção de dessalinizadoras pode ser também uma opção, apesar de cara, especialmente por ser um seguro em casos de falta extrema, “mas não pode ser uma estratégia cega”.

Miguel Gouveia insiste numa “análise sistemática do que é que das várias opções vale a pena”. E reforça: “Essa é a mensagem principal, respostas o mais racionais possíveis”.

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