Os projetos de duas centrais solares fotovoltaicas no concelho de Évora estão a ser contestados por uma plataforma cívica, que alega que vão provocar “danos irreversíveis” na paisagem e na vida dos moradores e agentes turísticos.
“Os projetos vão alterar a paisagem da zona, vão artificializá-la completamente e não podemos permitir que provoquem danos irreversíveis”, afirmou à agência Lusa a porta-voz da plataforma cívica “Juntos pelo Divor”, Ana Barbosa.
Segundo a plataforma cívica, as duas centrais vão ocupar “uma área total de cerca de 650 hectares” na freguesia de Graça do Divor, concelho de Évora.
O projeto da empresa Hyperion Renewables Évora envolve 394.500 painéis, enquanto o projeto da IncognitWorld 3 inclui 362.076 painéis fotovoltaicos.
Envolvendo um investimento de 144 milhões de euros, a central promovida pela IncognitWorld 3, pode ler-se no resumo não técnico do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), vai ter uma potência instalada de cerca de 210.000 megawatt-pico (MWp) e produzir anualmente em média 380.506 megawatt-hora (MWh).
Já o projeto da Hyperion Renewables Évora, também segundo o resumo não técnico do EIA, que não revela o investimento previsto, vai ter uma potência instalada de 260 MWp e uma potência nominal de 200 megawatt (MW), estimando se uma produção média de cerca de 554 gigawatt-hora (GWh).
Ambos os projetos já possuem a respetiva Declaração de Impacte Ambiental (DIA), mas com um parecer “favorável condicionado”.
Numa resposta enviada à Lusa por correio eletrónico, a Hyperion prometeu analisar as preocupações manifestadas pela plataforma cívica, vincando que pretende que os impactos “sejam minimizados e largamente ultrapassados pelos benefícios que o projeto trará”.
“É o objetivo da Hyperion envolver cidadãos e entidades locais, tendo já tomado medidas pontuais e estando também em estudo outras, a desenvolver com o município de Évora, com vista ao desenvolvimento local”, acrescentou.
Nas declarações à Lusa, a porta-voz da plataforma cívica “Juntos pelo Divor” sublinhou que “ninguém está contra as energias renováveis”, nem se pretende “impedir que se façam as centrais fotovoltaicas”.
Locais querem relocalizar projetos
“A nossa luta não é impedir que estes promotores façam o seu negócio, nem que o país tenha mais esta possibilidade da energia limpa. É que relocalizem estes projetos, colocando-os num sítio que não tenha o impacto que estes têm”, realçou.
Ana Barbosa assinalou que estas centrais, tal como estão propostas, “têm uma parte importante em cima da ecopista e estão numa zona que não faz sentido, muito perto da [aldeia de] Graça do Divor e dos bairros do Senhor dos Aflitos, Louredo e Canaviais”.
A plataforma cívica já divulgou um manifesto onde expõe as suas preocupações relativamente aos projetos e acaba de lançar uma petição pública sobre o tema.
“São zonas urbanizadas ou de pequena propriedade, com qualidade de vida, que as pessoas têm direito a querer ver preservada”, referiu.
Além disso, defendeu a porta-voz, a concretização das centrais vai colidir com projetos turísticos já criados e outros que estão previstos para aquela zona: “A transição energética é profundamente contraditória com os interesses estratégicos” do Alentejo, cujo “recurso fundamental é a paisagem”, argumentou.