Segundo o Copernicus, este novo recorde diário, que surge numa altura em que as ondas de calor atingem partes dos Estados Unidos e da Europa, poderá voltar a ser ultrapassado nos próximos dias, antes de as temperaturas baixarem, embora possa haver flutuações nas próximas semanas.

“O que é verdadeiramente surpreendente é a magnitude da diferença entre a temperatura dos últimos 13 meses e os recordes de temperatura anteriores”, frisou o diretor do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S), Carlo Buontempo, citado num comunicado.

“Estamos agora em território desconhecido e à medida que o clima continuar a aquecer, veremos certamente novos recordes a serem batidos nos próximos meses e anos”, alertou.

Antes de julho de 2023, o anterior recorde diário de temperatura média global era de 16,8°C, atingido a 13 de agosto de 2016, de acordo com os dados do Copernicus.

Desde 03 de julho de 2023, 57 dias ultrapassaram o recorde de 2016.

Depois de um ano de 2023 recorde de calor, junho de 2024 foi o mês de junho mais quente já medido, tornando-se o 13.º mês consecutivo a estabelecer um recorde de temperatura média mais elevada do que meses equivalentes.

A temperatura média global dos últimos 12 meses é, portanto, a “mais elevada alguma vez registada (…), 1,64°C acima da média pré-industrial de 1850-1900”, quando a desflorestação e a queima de carvão , gás ou petróleo ainda não tinham aquecido o clima da Terra, sublinhou o Copernicus no início de julho.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou um “apelo para a ação climática” e combate do calor extremo sofrido pelo planeta, depois de o domingo passado, dia 21 de julho, ter sido globalmente o mais quente desde que há registos.

“A Terra está a tornar-se mais quente e mais perigosa para todos, em todo o lado (…) O calor extremo é a nova anormalidade”, declarou Guterres à imprensa, ligando este evento meteorológico extremo à ação humana e ao consumo de combustíveis fósseis.

O dia de domingo, 21 de julho, foi o mais quente no mundo desde que os registos começaram em 1940, com uma temperatura média global à superfície da Terra de 17,09 graus Celsius, adiantou na terça-feira o programa europeu Copernicus.

O registo excede ligeiramente (0,01°C) o máximo anterior, datado de 06 de julho de 2023.

O calor extremo já mata cerca de meio milhão de pessoas por ano, 30 vezes mais do que os ciclones, e a Organização Meteorológica Mundial alertou para um rápido aumento das ondas de calor “em escala, intensidade, frequência e duração”, destacou o secretário-geral das Nações Unidas.

“Mil milhões de pessoas enfrentam uma epidemia de calor extremo, ‘assando’ sob ondas de calor cada vez mais mortíferas, com temperaturas superiores a 50°C”, alertou Guterres, deixando um “apelo para a ação”, assente na proteção dos mais vulneráveis e dos trabalhadores, utilização concertada dos dados científicos e combate às alterações climáticas.

Cuidado com os mais vulneráveis

Na primeira de quatro medidas propostas, o secretário-geral da ONU elencou o cuidado dos mais vulneráveis, indicando os pobres urbanos, os deficientes, os idosos, as crianças, os doentes e os deslocados.

Guterres sublinha que o calor extremo “amplifica as desigualdades” ao aumentar a insegurança alimentar e empurrar mais pessoas para a pobreza.

Estas pessoas podem ser ajudadas por medidas de “arrefecimento com baixo teor de carbono” alcançáveis com um desenho urbano adaptado ou através da melhoria da eficiência das tecnologias de arrefecimento, bem como de um sistema de alerta precoce mais eficaz e acessível a todos, o que exigirá um maior compromisso financeiro dos mais ricos.

Trabalhadores expostos ao calor

Em segundo lugar, Guterres apontou a melhoria da proteção dos trabalhadores como uma prioridade, uma vez que 70% (2,4 mil milhões) estão expostos ao calor extremo, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho, sobretudo em África (nove em cada dez) e na região da Ásia-Pacífico (três em quatro).

Esta exposição profissional ao calor tem efeitos económicos: a produtividade cai 50% com temperaturas superiores a 34 graus, e o “’stress’ climático” custará à economia global 2,4 biliões de dólares (dois biliões de euros) em 2030, contra 280 mil milhões de dólares (257 mil milhões de euros) em meados dos anos 1990, pelo que são necessárias medidas urgentes de proteção baseadas nos direitos humanos.

Melhorias nas infraestruturas urbanas

O terceiro eixo envolve uma melhor utilização dos dados científicos, de forma concertada, que pode proporcionar melhorias nas infraestruturas urbanas, na agricultura, nos reservatórios de água, nos sistemas de saúde e no abastecimento elétrico, e que pode mudar a vida das grandes cidades, onde o aquecimento é intenso.

Contra os combustíveis fósseis

Por último, Guterres sublinhou que todas estas medidas devem ser incluídas no âmbito da luta contra as alterações climáticas, uma vez que, “para vencer os sintomas, deve-se atacar a doença, e a doença é a loucura de queimar a nossa única casa, é o vício em fósseis combustíveis e inação climática”.

Neste sentido, o Secretário-Geral da ONU apelou a todos os países para que elaborem um plano de ação climática para o próximo ano, e pediu que o setor privado, as administrações locais e regionais também comecem a trabalhar, mantendo sempre claros dois objetivos: acabar com novos projetos de carbono e “reduzir o consumo global de combustíveis fósseis em 30% até 2030”.

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