Uma das primeiras lições que aprendemos é que “quem conta um conto, acrescenta um ponto” – e nunca esta lição foi tão pertinente como agora, numa era em que os impactos das alterações climáticas são inegáveis e a urgência da transição para fontes de energia sustentáveis é cada vez maior. Portugal encontra-se numa encruzilhada onde os mitos e a realidade referentes às energias renováveis se entrelaçam, muitas vezes ofuscando as soluções que têm sido apresentadas e, consequentemente, abrandando a adoção das mesmas. Parece-me, portanto, crucial desmistificar alguns destes mitos enraizados para que possamos dar os passos necessários rumo a um futuro renovável e descarbonizado.
Vamos abrir a caixa de Pandora dos mitos das energias renováveis e confrontar diretamente essas inverdades. Primeiramente, há quem acredite que a energia renovável é um luxo caro e inacessível. No entanto, graças aos avanços tecnológicos e à crescente consciência ambiental, a realidade está a mudar e a energia renovável está a tornar-se cada vez mais competitiva do que as opções fósseis mais baratas. Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), os custos da energia fotovoltaica caíram 29% em 2022, tornando-a numa escolha financeiramente inteligente e num investimento sustentável a longo prazo, sendo que o período de retorno da energia dos módulos solar fotovoltaicos é de cerca de dois a cinco anos, tornando-os também uma opção viável e sustentável a longo prazo.
Outro mito que precisamos de contornar é a ideia de que não é possível produzir eletricidade a partir de painéis solar fotovoltaicos em dias nublados ou chuvosos – quase todo o inverno, portanto. É verdade que a produção de energia é menor em condições meteorológicas adversas, mas mesmo nesses dias é possível capturar radiação solar e gerar eletricidade, ainda que em menor escala. Posto isto, é importante esclarecer que a produção de energia solar é uma ótima opção, quer em dias de sol, quer em dias de chuva, tanto na primavera como no inverno.
Os desafios no setor das energias renováveis são inegáveis: desde garantir a estabilidade das redes elétricas até desenvolver sistemas eficientes de armazenamento de energia para os picos de produção, há muito trabalho a ser feito. No entanto, Portugal tem dado passos significativos para enfrentar essas dificuldades. Os esforços realizados para modernizar as redes e criar soluções de armazenamento mais eficientes, refletem-se na acessibilidade e inclusão das energias renováveis, que motivam as comunidades a participar ativamente na produção e consumo sustentáveis e contrariam a noção de que as energias renováveis não são para todos.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, escreveu Luís de Camões. Hoje, esse verso ressoa mais do que nunca. A transição energética é multifacetada e o futuro sustentável do país não reside apenas na superação de desafios técnicos – é necessário questionar concepções imprecisas para garantir uma compreensão mais informada sobre o caminho que Portugal está a trilhar na industrialização verde. Está na hora de avançar com confiança em direção a um futuro sustentável, desafiando os mitos que nos impedem de o alcançar.
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