Os regulamentos da União Europeia definem uma quota de viaturas 100% elétricas para os construtores de automóveis cumprirem os limites de emissões de CO2 estipulados, o que pressupõe um reforço das vendas de veículos elétricos… ou talvez não. Confrontado perante o abrandamento do crescimento das matrículas de automóveis novos 100% elétricos, o Grupo Stellantis admite agora ir ao outro lado da equação para, se necessário, reequilibrar as contas. Dito de outra forma, se a venda de elétricos não está num patamar que permita estar dentro das balizas exigidas por Bruxelas, a Stellantis poderá reduzir a venda dos modelos a combustão para que o desequilíbrio não seja tão acentuado.

Jean-Philippe Imparato, diretor de operações da Stellantis na Europa, afirmou, justamente, isso: que o grupo está preparado para reduzir a sua produção de automóveis com motor de combustão interna no próximo ano para cumprir os novos limites de emissões da UE, evitando, dessa forma, o pagamento de multas.

A legislação da União Europeia impõe objetivos de redução do dióxido de carbono (CO2) para as vendas de automóveis ligeiros e veículos comerciais novos. Este regulamento, designado por normas de desempenho da UE em matéria de emissões de CO2, foi concebido para orientar a indústria automóvel no sentido de atingir 100% de vendas de veículos com emissões zero até 2035. Esta orientação projeta os objetivos de CO2 para cada fabricante em 2025, com base nos dados oficiais mais recentes, e estima a quota máxima de veículos elétricos a bateria novos necessária para os cumprir. 

De 13% para 25%

Estima-se que o novo regulamento obrigue os construtores a atingir uma quota de 20-25% nas vendas de automóveis elétricos, o que representa um aumento significativo em relação à quota atingida pelos automóveis elétricos a nível europeu, que até agosto representavam menos de 13% do volume total do mercado.

O CEO da Renault e presidente da Associação dos Construtores Europeus de Automóveis (ACEA), Luca de Meo, afirma que a indústria automóvel poderá enfrentar multas de 15 mil milhões de euros se as vendas de veículos elétricos se mantiverem aos níveis atuais.

A ACEA (Associação de Construtores Europeus de Automóveis) tem vindo a solicitar um ajuste dos regulamentos europeus, mas dentro da associação nem todos concordam com isso.

É o caso da Stellantis que se opõe ao adiamento da entrada em vigor dos novos limites, tal como pretendem os seus concorrentes como a Renault e a Volkswagen. Carlos Tavares, Diretor-Geral da empresa, deixou isso bem claro há algumas semanas. “Seria surrealista mudar as regras agora. Toda a gente conhece as regras há muito tempo e teve tempo para se preparar”.

Para o português, o adiamento do regulamento pode fazer com que a indústria europeia perca ainda mais terreno para a China na corrida aos automóveis elétricos. “A dura realidade é que os nossos rivais chineses fabricam veículos elétricos por menos um terço do que nós. Temos de fazer melhor. Cada segundo que paramos é tempo que perdemos para melhorar”.

“Sim, 2025 vai ser um ano difícil, mas o que é um ano difícil comparado com o facto de o nosso planeta estar a arder? Onde está a responsabilidade ética, onde está a coragem?”, perguntou Tavares durante o Salão Automóvel de Paris. “Se fizermos uma pausa, não só não assumimos as nossas responsabilidades éticas, como também, do ponto de vista comercial, desligamo-nos completamente da nossa corrida com os asiáticos, o que significa que estamos acabados”.

Imparato confirmou que a Stellantis terá de duplicar a sua quota de carros elétricos até 2025, pelo que, se a procura não começar a aumentar, isso terá de ser conseguido através da redução das vendas de modelos térmicos: “Uma vez que apenas produzimos veículos abrangidos por encomendas de clientes, montaremos tantos automóveis térmicos quantos os necessários para manter a quota de veículos elétricos ao nível exigido”.

O Grupo Stellantis está a aumentar a sua gama elétrica e a preparar várias medidas para tentar puxar pelas vendas dos BEV, incluindo um programa de incentivos que recompensará os concessionários que venderem mais automóveis elétricos.

Artigo anteriorTem noção de quanto gasta em energia com os seus eletrodomésticos?
Próximo artigoEnergica entrou em insolvência