Com o evento a regressar a Barcelona, o TBB 2024, organizado pela EIT InnoEnergy, marcou um momento de ciclo completo, com mais de 3.500 reuniões entre stakeholders, reforçando o papel da Europa na transição para energias limpas. Diego Pavia, CEO da InnoEnergy, celebrou a recente conquista da empresa, afirmando: “Alcançar o estatuto de unicórnio traz orgulho e responsabilidade. Este é apenas o início de uma jornada, com o objetivo de se tornar um decacórnio em cinco anos”.

Nesta edição, o foco esteve na busca por equilibrar o crescimento económico, a resiliência geopolítica e a transição para energias limpas. As conversas centraram-se em promover colaborações, aproveitar as oportunidades das tecnologias avançadas e reconhecer o papel que o ecossistema mais vasto deve desempenhar nestas mudanças.

Elena Bou, Diretora de Inovação da InnoEnergy, destacou o papel de liderança da Europa em tecnologias limpas, sublinhando que 40% das tecnologias emergentes nesta área a nível mundial têm origem na Europa. Com a Europa a representar 43% do investimento global em tecnologias climáticas, Bou reforçou a importância de manter este ímpeto. “Estamos no caminho certo, mas há muito por fazer a nível global”, observou Bou, apelando à Europa para manter a sua competitividade enquanto promove uma concorrência justa.

A IA foi identificada como um dos principais motores de crescimento no setor energético. “A eficiência por si só não é suficiente para suportar o crescimento dos centros de dados”, afirmou Hervé Hellez da Schneider Electric, defendendo a modernização e otimização das redes. Jef Caers, professor de Stanford, frisou que a IA deve não só prever, mas também guiar ações reais para a sustentabilidade.

O setor do hidrogénio foi também destacado como uma grande oportunidade, sendo essencial garantir financiamento a longo prazo para que os projetos sejam viáveis. Carina Krastel, Diretora-Geral do Centro Europeu de Aceleração do Hidrogénio Verde, explicou: “Projetos como o H2 Green Steel na Suécia e o NEOM na Arábia Saudita obtiveram sucesso no investimento ao alinharem risco e retorno entre diversos parceiros”.

Indústria de hardware energético

O setor de baterias da Europa continua a ser fundamental, especialmente com o aumento da procura por sistemas de armazenamento de energia estacionária (ESS). “Com um design de produto sustentável e a colaboração entre público e privado, a indústria de baterias da Europa pode liderar tanto em energia limpa quanto em força económica”, afirmou Thore Sekkenes, Diretor do Programa EBA na EIT InnoEnergy.

A Europa está também a trabalhar para reestabelecer a sua capacidade de produção de fotovoltaicos (PV), com planos para alcançar até 30 GW de capacidade. Apesar dos desafios face ao domínio da China, Penelope Nabet da EIT InnoEnergy destacou a ambição alinhada, o financiamento e a prontidão para agir da Europa. Miguel Rodrigo Gonzalo, de Espanha, reforçou este compromisso, sublinhando os esforços nacionais para construir uma base sólida para a transição energética.

Resiliência Geopolítica: A Mudança Estratégica

A independência energética foi uma prioridade, com Maroš Šefčovič da Comissão Europeia a destacar a redução da dependência de gás russo, de 45% para 15%. Esta mudança sublinha o compromisso da Europa com a independência energética sustentável, combinando competitividade com descarbonização. Acrescentou: “O capital privado deve apoiar este esforço para que continuemos na linha da frente da transição energética”.

As instituições financeiras europeias estão cada vez mais focadas em inovações que promovam a segurança energética a longo prazo. Alessandro Izzo, do BEI, explicou: “A inovação em tecnologias limpas tornou-se um foco central para nós.” Benoit Lemaignan, da Verkor, apelou a uma mudança de abordagem, defendendo que a Europa deve passar de uma perspetiva oportunista para uma estratégica, focada em criar campeões industriais sustentáveis.

Urgência na proteção das pessoas e do planeta

Lewis Pugh, Patrono dos Oceanos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, apelou à urgência. “É mais fácil seguir, mas agora é o momento de liderar esta transição. O mundo está a mudar, e a ação é essencial”, disse, acrescentando o seu compromisso em apoiar cada etapa.

As conversas enfatizaram a necessidade de a Europa manter o ritmo na requalificação, digitalização e investimento em I&D. “Embora a Europa seja forte no desenvolvimento de tecnologia, investir mais em investigação é essencial para proteger a sua posição”, afirmou Gwenaelle Avice Huet da Schneider Electric.

As start-ups e scale-ups presentes no TBB demonstraram o potencial da Europa para escalar tecnologias que permitam alcançar as metas de descarbonização, sublinhando o papel fundamental da colaboração.

O que pensa o Welectric

O TBB 2024 foi uma excelente mostra de ideias e projetos que podem relançar a Europa para a vanguarda tecnológica em vários setores, particularmente no da energia. Todavia, apesar do ambiente positivo deste evento, muito bem organizado e com um espírito de colaboração bem presente, fica a sensação de que há muito a fazer, sobretudo na recuperação da indústria do Velho Continente. Depois de muitas décadas a beneficiar amplamente da deslocalização industrial para outros pontos do globo — já para não falar da dependência de energia barata proveniente de países que se têm revelado antagonistas da Europa — não vai ser um processo fácil nem rápido.

A Europa e os agentes de inovação têm que navegar um ambiente complexo, com uma perspetiva muitas vezes demasiado cautelosa no que diz respeito ao financiamento, e muitas diferenças de regras, burocracias e preços de energia de país para país, mesmo dentro da União Europeia.

E, no entanto, não parece existir mesmo alternativa para a Europa. Ou se compromete integralmente na transição energética, apostando na sua resiliência e independência geopolítica, ou fica limitada e dependente dos países que vão liderar esta transição global, na digitalização e na eletrificação. A InnoEnergy deixou claro no TBB que esta transição é uma oportunidade para a Europa assumir a liderança na prosperidade sustentável e na independência energética. Mas o relógio não para e não é fácil perceber se ainda vamos a tempo.

All the photos in this feature are © EIT InnoEnergy

Artigo anteriorO novo Porsche elétrico de Félix da Costa
Próximo artigoIncentivo para comprar elétrico tem efeitos retroativos a 1 de janeiro