Aproveitando a oportunidade no TBB 2024, que se realizou em Barcelona, o Welectric conversou com Andreia Fernandes, Country Manager da EIT InnoEnergy no nosso país.

Welectric: Andreia, o que é a EIT InnoEnergy?

Andreia Fernandes: A EIT InnoEnergy é um acelerador de inovação na área da energia sustentável. Esta frase contém uma série de conceitos bastante abrangentes. Para nós, o triângulo da inovação tem três grandes pilares. O primeiro é o mercado, que aceita a inovação e resolve um problema. O segundo é o talento. Sem talento, sem pessoas qualificadas não é possível desenvolver uma tecnologia. O terceiro pilar são os empreendedores, pessoas com uma visão diferente, que não precisa ser disruptiva, mas com a ambição para fazer algo novo para o mercado. É juntando estes três pilares que trabalhamos a inovação. A componente de aceleração permite que a transferência de tecnologia para o mercado seja mais rápida e com maior impacto.

Investimos em projetos de TRL 5 ou 6, acelerando a entrada no mercado. Os projetos ainda estão na fase tecnológica, e a transferência para o mercado transforma-os em produtos ou serviços. É uma jornada de alto risco para as start-ups e normalmente demora muito tempo, pois precisam fazer a transição de TRL 5 para TRL 9 para entrar no mercado. Nós ajudamos essas start-ups a acelerar. Quando planeiam a entrada no mercado em três anos, tentamos que seja em um ano e meio, ou menos. Algumas tecnologias demoram muito mais tempo, pois cada start-up, cada tecnologia e cada solução são únicas. Algumas precisam de 15 a 20 anos para entrar no mercado, enquanto outras precisam de apenas um ano. E por vezes uma boa tecnologia não se traduz em um bom produto. É necessário constantemente adaptar a direção da transformação da tecnologia em produto. 

Temos uma rede fantástica que pode ser vista aqui na TBB. Realizamos reuniões com as start-ups e com a nossa equipa, que está totalmente empenhada, o que é motivo de orgulho para mim. Todos os anos aumentamos o número de participantes e de start-ups, e o feedback é bastante positivo.

Se precisamos ativar um recurso que não temos na nossa rede, nos nossos parceiros ou na nossa equipa, procuramos esse recurso. Trabalhamos a parte financeira, legal, de propriedade intelectual e de talento. Muitas vezes uma start-up não avança por falta de talento, de pessoas que saibam trabalhar no projeto. Temos um programa de mestrados que já funciona há mais de uma década com muito sucesso. As pessoas que fazem o mestrado entram no mercado já com as noções para perceber se o negócio é viável para o tipo de organização onde trabalham.

W: Quais são os principais mercados em que a InnoEnergy opera?

AF: Temos uma ligação muito próxima com a Comissão Europeia desde o início da nossa atividade e, como tal, assumimos uma missão pública, que é apoiar a descarbonização da economia europeia. 

A nossa atividade, particularmente a nível da aceleração das start-ups e a criação de talento, está muito focada na Europa. Mas sabemos que a energia é transversal e é global. Abrimos recentemente um escritório nos Estados Unidos. Há uma ligação transatlântica que faz muito sentido, até porque também apostam muito em tecnologias que, para nós, na Europa, são críticas, como os gases sustentáveis, mobilidade elétrica e baterias. Tudo isso é importante para a Europa. 

Se há uma solução que faz sentido no Médio Oriente, em África ou na Ásia, tentamos abrir esse mercado para a start-up ou para a empresa que estamos que estamos a apoiar. 

W: Quando é que começou a atividade da InnoEnergy em Portugal?

AF: Começámos as atividades em 2012, com o parceiro fundador português, que foi o Instituto Superior Técnico. As primeiras atividades foram relacionadas com a educação. A partir daí, começámos a apoiar start-ups, e ter acesso a empreendedores com ideias inovadoras e começámos a investir em 2013, desde então com mais de 30 start-ups apoiadas diretamente. Fazemos o primeiro contacto para perceber se podemos ajudar a acelerar com impacto. Se sim, investimos. Se não, poderemos ajudar os empreendedores com algumas sugestões e contactos. Neste momento, temos cerca de 10 start-ups a serem apoiadas em Portugal. Cinco foram selecionadas para vir ao TBB para mostrar aqui a sua solução: Vertequip, Charge 2 Change (C2C), Enline, Eneida e Fibersail são empresas bastante interessantes, com soluções aplicáveis na monitorização da rede elétrica, no armazenamento de eletricidade, na manutenção de estruturas e eficiência energética. São soluções de hardware e software que permitem a monitorização e manutenção preventiva da rede elétrica com a Enline e Eneida, e soluções que permitem também ter um impacto de inclusão, como por exemplo a solução da Vertequip, que permite que pessoas com mobilidade reduzida, possam trabalhar em altura, o que em termos de segurança é muito interessante. Temos a parte de armazenamento, com os supercondensadores, com aplicabilidade para a indústria da logística, nomeadamente em camiões de longo curso. A Fibersail tem uma solução inovadora para a monitorizar e controlar as deflexões das pás eólicas. 

A inovação portuguesa está bem e recomenda-se. Os nossos empreendedores são bem considerados, têm equipas muito robustas a nível técnico e com elevada adaptabilidade ao mercado e ao serviço ao cliente.

W: E Portugal é um bom ecossistema para as start-ups?

AF: Portugal é considerado um excelente ecossistema para start-ups tecnológicas. Nos últimos anos, o país tem se destacado no cenário europeu de inovação e empreendedorismo. A regulação é uma parte muito importante na energia. É comum ouvir que a Europa é bastante burocrática e que tende a supervisionar muito este setor. Isto pode atrasar a inovação. Mas o mercado é bastante interessante para fazer os chamados pilotos de inovação para demonstrar a tecnologia. Este passo na vida de uma start-up tecnológica é vital, quando no papel tudo parece encaixar, falta experimentar. Portugal é um mercado interessante para os empreendedores de todo o mundo virem testar, porque as empresas portuguesas gostam de tecnologia inovadora. A nossa economia neste momento está numa situação em que vai ter que decidir se quer realmente industrializar ou se quer focar na parte de serviços. Para industrializar precisamos de tecnologia para aumentar eficiência e produtividade e descarbonizar. O decisor do nosso tecido económico é povoado por pequenas e médias empresas que estão agora a pensar: como é que eu posso escalar o meu negócio? A tecnologia é um facilitador. Depois estamos numa fase de financiamento público muito interessante para estas pequenas e médias empresas, cuja capacidade financeira para investir em inovação ou em tecnologia é limitado. 

W: Como é que uma uma startup pode solicitar o apoio da InnoEnergy?

AF: Somos uma empresa europeia com várias entradas. Estejam aqui em Portugal, na Suécia, em França, podem contactar a equipa local e analisamos os casos consoante a área temática da sua aplicação. Os nossos contactos estão no nosso site. Estamos no Linkedin. Venham ter connosco.

W: Que conselho daria às pessoas que têm uma ideia com potencial e estão disponíveis para trabalhar muitas horas extra para atingir os seus objetivos?

AF: Muitos de nós temos uma ambição, temos uma ideia, mas depois não sentimos que temos uma rede de segurança bastante forte. Não avançamos. Tentem. Existem entidades, como a EIT InnoEnergy, que estão aqui para proporcionar essa rede de segurança. Se têm uma ideia, se têm uma tecnologia, venham falar connosco e nós vamos tentar apoiar. É uma questão de analisar o potencial impacto que pode ter. Quanto maior o impacto, maior o risco. Mas também maior a recompensa.

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