As alterações climáticas causadas pela atividade humana intensificaram os piores eventos extremos dos últimos 20 anos e contribuíram para a morte de 570 mil pessoas, segundo uma análise da organização World Weather Attribution (WWA).
O estudo sublinha que as alterações climáticas já estão a ser “incrivelmente perigosas com um aquecimento de 1,3°C” (graus celsius), sendo disso evidente as ondas de calor que têm afetado diferentes geografias.
A WWA fala, nomeadamente, da onda de calor na Europa em 2003, que terá provocado a morte de mais de 70 mil pessoas e que, segundo a instituição, terá sido a “primeira prova inegável de que as alterações climáticas” eram uma realidade que estava a afetar a vida das pessoas e não uma “ameaça abstrata”.
A WWA é formada por investigadores de várias instituições científicas e universitárias e tem protocolos e parcerias com peritos locais que permitem avaliar rapidamente fenómenos climáticos extremos em todo o mundo, socorrendo-se também de modelos climáticos e literatura especializada.
Foi a primeira vez, diz a WWA, que os cientistas identificaram claramente as “impressões digitais” das alterações climáticas num fenómeno meteorológico específico, marcando o início de um novo campo de investigação, conhecido como “ciência da atribuição”.
Na análise dos 10 eventos climáticos mais mortíferos desde a onda de calor de 2003 incluiu-se três ciclones tropicais no Indo-Pacífico (Sidr, Nargis e Haiyan), quatro ondas de calor na Europa, dois fenómenos de precipitação intensa (um na Índia, outro no Mediterrâneo) e uma seca no Corno de África.
“No seu conjunto, estes fenómenos causaram mais de 350.000 mortes. E em todos eles encontramos as impressões digitais das alterações climáticas”, salienta a organização, que adverte que não se contabilizaram centenas de milhares de mortes não reportadas.
O fator alterações climáticas nos fenómenos extremos nem sempre foi mensurável, mas a WWA, criada em 2014, fornece provas científicas sobre se e em que medida as alterações climáticas tiveram um papel numa determinada catástrofe.
“O nosso trabalho, juntamente com a literatura científica, mostra agora que, com cada tonelada de carvão, petróleo e gás queimado, todas as ondas de calor e a esmagadora maioria dos fenómenos de precipitação intensa, secas e ciclones tropicais se tornam mais intensos”, avisa.
Destaca a organização que o facto de o mundo não se afastar dos combustíveis fósseis “está a provocar alterações dramáticas nas condições meteorológicas extremas, contribuindo para centenas de milhares de mortes e afetando milhões de pessoas”.
Foto de destaque de Rodion Kutsaiev na Unsplash