O metrobus do Porto será um serviço de autocarros a hidrogénio que ligará a Casa da Música à Praça do Império (obra quase concluída) e à Anémona (na segunda fase) em 12 e 17 minutos, respetivamente.
Os veículos definitivos do serviço custaram 29,5 milhões de euros. Já a empreitada do metrobus custa cerca de 76 milhões de euros.
A encomenda dos veículos a hidrogénio são da responsabilidade da Metro do Porto. Mas a operação e gestão irá pertencer à STCP.
A primeira linha será Boavista-Império, seguindo-se Boavista-Anémona, em Matosinhos.

Os vários problemas
Problema número um: o projeto tem sofrido vários atrasos e a própria entrada em funcionamento dos novos autocarros a hidrogénio está atrasada, esperando-se que as primeiras unidades cheguem durante o mês de dezembro. Contratualmente, o prazo limite definido para entrega das composições é abril de 2025, pelo que os prazos podem voltar a ser alongados.
Problema dois: a Metro do Porto continua sem saber se terá instalações, previstas para a Estação de Recolha da Areosa, para garantir a produção de hidrogénio verde que permitirá a circulação do transporte. No final de setembro, o Porto Canal referia que o memorando de entendimento para a operação continuava por assinar.
Problema três: a ideia é utilizar provisoriamente a infraestrutura pela linha 203, com outros veículos, até chegarem os autocarros a hidrogénio. A questão é que nem a Polícia Municipal, nem a STCP aprovam a ideia.
A Polícia Municipal do Porto concluiu que a operação da STCP no canal do metrobus tem “fragilidades” do ponto de vista da segurança nas alterações do sentido de trânsito e paragem junto às estações. Em causa está a circulação pensada para a estação da Casa da Música.
Num relatório, a que Lusa teve acesso, a Polícia Municipal refere que “ficou para nós claro que o sucesso desta operação dependerá em exclusivo da perícia do motorista”, indica a chefe da divisão municipal de trânsito da Polícia Municipal, acrescentando ainda que se deve ter em conta “o ‘stress’ a que [os motoristas] estão sujeitos em dias normais de trânsito”.
O documento, datado de 30 de outubro, um dia depois de a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) ter realizado testes no canal do metrobus.
Testes com autocarros elétricos da STCP
A operação do metrobus vai ser explorada pela STCP (operador interno do modo rodoviário do concelho do Porto). Assim, os testes foram realizados com dois autocarros standard elétricos da STCP, que fizeram o percurso Praça do Império/Rotunda da Boavista e Rotunda da Boavista/Praça do Império (parcialmente coincidentes com o trajeto da Linha 203).
Após realizar os testes da linha 203 no canal do metrobus, também a STCP concluiu que a operação “é insegura, ineficiente e comercialmente desvantajosa, comprometendo a integridade do serviço e a segurança dos passageiros”.
Segundo a STCP, adaptar a infraestrutura para permitir a utilização da estação da Casa da Música “exigiria uma remodelação profunda e custos significativos, inviáveis para uma solução temporária. Dada a configuração atual, a estação Casa da Música não pode ser utilizada, uma vez que não oferece os níveis mínimos de segurança para a operação”,
Entre as fragilidades, a Polícia Municipal acrescenta a “possibilidade de invasão da via normal de circulação”, quando o autocarro toma a via de sentido contrário para parar junto à estação.
No entanto, admite ser “possível abordar a estação pela via contrária, minimizando a intrusão na via de trânsito normal em sentido contrário, a uma velocidade muito reduzida (5 km/h) e com todos os cuidados necessários a ser observados pelos motoristas”.
“Grave perigo para os utilizadores”
A Polícia Municipal alerta também que, entre o autocarro e as plataformas das estações, “fica uma distância demasiado grande, criando um grave perigo para os utilizadores, principalmente os mais idosos, de mobilidade mais reduzida ou com campo de visão comprometido”.
“Mais uma vez, a redução da possibilidade de queda depende exclusivamente da capacidade do motorista de conseguir aproximar o veículo do cais de embarque”, assinala.
O relatório conclui ainda que “não estão reunidas as condições de segurança para o funcionamento da estação da Casa da Música” e sugere mesmo a sua desativação.
Segundo a Polícia Municipal, os autocarros teriam de sair do canal do metrobus e entrar em sentido contrário na rotunda da Boavista, o que criaria “graves constrangimentos de trânsito e de perigo para a circulação, violando reiteradamente princípios e regras de circulação automóvel”.
Além de desativada a estação, a Polícia Municipal alerta que deve ser acautelada sinalização luminosa para a saída dos autocarros do canal do metrobus e entrada na Avenida da Boavista.
Simultaneamente, considera que deve ser reavaliada a capacidade da praça de táxis com 12 lugares existente antes da paragem já em funcionamento na rotunda junto ao tabernáculo.
A utilização desta paragem pela linha 203 “impossibilitará qualquer praça de táxis antes da mesma, uma vez que a viatura terá de ser reposicionada na respetiva baía de paragem”, lê-se no documento que será enviado ao grupo de trabalho da Assembleia Municipal.
No relatório são também assinaladas fragilidades ao nível da sinalização do próprio canal do metrobus.
Segundo a Polícia Municipal, a sinalização que determina o sentido proibido, exceto para o metrobus, deverá ser pintada no pavimento ou colocada em pórticos elevados ao longo da Avenida da Boavista, uma vez que a largura das vias impede a colocação do respetivo sinal.
Apela-se também a que se alterem os sinais colocados junto às plataformas das estações e que se acautelem mais cerca de 10 a 15 metros da linha descontínua, para que os motoristas possam chegar às plataformas das estações.
Por fim, a Polícia Municipal solicita esclarecimentos sobre o funcionamento do sistema de captação de imagens (CCTV) e os seus critérios legais, nomeadamente, quem irá monitorizar o ‘stream’ de vídeo.
A adjudicação para o fornecimento e manutenção dos veículos metroBus, na sequência de concurso público internacional, foi realizada ao consórcio português constituído pela CaetanoBus, a DST Solar a Dourogás Natural a PRF e a BrightCity. O valor de adjudicação foi de 29,5 milhões de euros, incluindo a manutenção das unidades pelo período de cinco anos.
As 12 composições metroBus que vão entrar em operação têm como grande particularidade a colocação das portas do lado esquerdo, podendo qualquer uma delas servir, ao mesmo tempo, enquanto entrada e saída de passageiros, tal e qual acontece num metro e ao contrário do que ocorre num serviço de autocarros convencional. Também em conformidade com o que se verifica no Metro, os utilizadores devem validar os seus respetivos títulos nas estações e não no interior dos veículos.
Alimentados a hidrogénio verde, os veículos do Metrobus não produzem emissões poluentes, prestando um contributo para a neutralidade carbónica.