Passe a brincadeira no título, a centena de quilómetros passada ao volante das duas versões já disponíveis em Portugal do Porsche Macan elétrico deixou muito boas indicações. Não deu para perceber tudo, porque o percurso dividiu-se entre a cidade, a autoestrada e estradas nacionais alentejanas, onde as curvas rarearam. 

Mas vamos a um pouco de contexto. O Macan foi lançado há 10 anos e rapidamente se tornou um dos modelos mais bem sucedidos da Porsche, com mais de 800.000 unidades vendidas, mostrando que o mercado dos SUV foi a aposta certa. O que mudou entretanto foi a eletrificação e, sem surpresa, é também este tipo de carroçaria que tem maior sucesso nos elétricos de bateria, sobretudo dos segmentos C e D em diante. A aposta da Porsche é corajosa, porque o mercado indica que existem clientes para as motorizações a combustão, sobretudo com tecnologia híbrida plug-in, uma opção que não parece estar totalmente afastada pelo construtor alemão no futuro. 

Macan elétrico: 4 ou Turbo?

Mas, para já, o Macan é elétrico e foi-nos apresentado em Cascais em duas versões distintas. O Macan 4 tem dois motores e uma potência máxima combinada de 300 kW (408 cv), um valor que, por coincidência (ou talvez não) é exatamente idêntico ao do Porsche 911 ‘993’ Turbo. A Porsche aprecia estes pormenores, com um toque de história que nem todos têm para mostrar, mesmo que de forma subtil, como neste caso. Em termos de binário, o Macan 4 tem 650 Nm imediatamente disponíveis no pedal da direita, o que dá muito mais jeito do que se julga quando estamos num automóvel que, com dois jornalistas razoavelmente elegantes a bordo, acusa mais de 2,5 toneladas de peso (sem ocupantes são 2405 kg). A anterior geração do Macan, com motores e gasolina e gasóleo oscilava entre os 1800 e 2000 kg, mais coisa menos coisa.

Mas o novo Macan tem um pack de bateria de iões de lítio NMC com 100 kWh (95% utilizáveis) feita pela chinesa CATL e que pesa 570 kg. Esta capacidade generosa permite à Porsche anunciar até 613 km no ciclo WLTP para este modelo, com um consumo de 17,9 kWh. No nosso percurso misto, mas com mais quilómetros de autoestrada, rondámos os 25 kWh, mas uma utilização normal e despreocupada, a rondar os 20-22 kWh deve ser perfeitamente possível.

Carregamento até 270 kW

Graças à tecnologia de 800 Volts, o Macan aceita carga com uma potência de até 270 kW, que permite carregar de 10 a 80% em 21 minutos. O carregador embarcado é de 11 kW e carrega totalmente a bateria de 0 a 100% em dez horas. 

A Porsche destaca que desenvolveu também significativamente a capacidade de os motores recuperam energia, sendo que a Integrated Power Box (IPB) também contribui para um aumento de eficiência, combinando três componentes: o carregador de bordo AC, o conversor de calor de alta voltagem e o conversor DC/DC.

Quanto a prestações, a Porsche indica uma aceleração de 0-100 km em 5,2 segundos e tem uma velocidade máxima de 220 km/h. 

Quanto ao Turbo, igualmente com dois motores, tem uma potência máxima combinada de 470 kW (639 cv) e um binário monstruoso de 1130 Nm. A Porsche anuncia mais 75 kg de peso e uma autonomia em WLTP de 590 km. Os 0-100 são percorridos em 3,3 segundos e a velocidade máxima é de 260 km/h. 

O restante é semelhante, já que o sistema de 800V e o pack de bateria são transversais à gama Macan. 

Design desportivo, mas é um SUV…

Quanto ao design, nota-se uma maior agressividade em alguns elementos, sobretudo na frente e na traseira. Destacam-se, em particular, os faróis dianteiros e a linha do tejadilho e pilar C, que lhe conferem uma silhueta quase de coupé. Com esta volumetria não há milagres e o Macan não será um ícone de design, mas a Porsche fez um trabalho competente na estética e incrível na aerodinâmica, com um Cx anunciado de 0,25. Este resultado é possível graças ao sistema Porsche Active Aerodynamics, com spoiler traseiro adaptativo, flaps ativos de arrefecimento nas entradas de ar dianteiras e cobertura flexível na parte inferior da carroçaria completamente selada. As Air curtains por baixo do módulo dos faróis e a extremidade dianteira inclinada otimizam o fluxo de ar, coadjuvados pelos rebordos laterais e o difusor na traseira.

Espaçoso, ergonómico e customizável

Quanto ao interior, a Porsche afirma que o Macan elétrico ganhou espaço de arrumação, com 540 litros na bagageira atrás e a possibilidade de ter um segundo porta-bagagens à frente, com 84 litros adicionais. Com os bancos traseiros rebatidos, a capacidade máxima é de 1348 litros. O Macan pode ainda rebocar até duas toneladas de peso. 

O interior é bastante ergonómico e espaçoso, com a qualidade de materiais e montagem habitual da marca. Os bancos nas unidades ensaiadas eram confortáveis e com bastante apoio. Um fator curioso é que o Macan elétrico permite ter os bancos, à frente e atrás, numa posição mais baixa do que o seu antecessor.

Quanto ao infotainment, com base no sistema Android, o Macan pode ter dois ecrãs adicionais, para além do painel de instrumentos curvo de 12,6’’. Para além do ecrã central no tablier, está também disponível um ecrã opcional para servir os bancos traseiros. Tudo o que experimentamos funcionou de forma integrada e com resposta rápida, incluíndo o Apple Car Play. Graças ao Porsche App Centre é possível instalar aplicações de terceiros no sistema do Macan. 

Suspensão pneumática e eixo traseiro direcional

Em termos técnicos, a Porsche dá grande ênfase ao eixo traseiro direcional e aos amortecedores de duas válvulas. Também não são poupados elogios à capacidade de resposta dos motores elétricos, geridos pelo Porsche Traction Management que, segundo o construtor, atua de forma cinco vezes mais rápida do que um sistema de tração integral convencional. O sistema de vetorização de binário também concorre para minimizar as perdas de tração e aumentar a estabilidade. O Macan Turbo tem de série suspensão pneumática e beneficiam do Porsche Active Suspension Management, que também pode trabalhar com o sistema de molas de aço disponíveis nos outros modelos da gama. O Porsche Active Suspension Management conta agora com amortecedores de duas válvulas, que permitem diferenciar ainda mais uma utilização normal, maximizando o conforto, e uma utilização desportiva, com um comportamento muito mais preciso e rigoroso. O eixo traseiro direcional é uma opção e confere maior agilidade ao Macan a baixa velocidade e maior estabilidade a alta velocidade.

Os preços em Portugal começam nos 86.793,00€ para o Macan 4 e nos 118.846,00€ para o Macan Turbo e as entregas já começaram. 

O que pensa o Welectric

É sempre um prazer passar algum tempo ao volante de um Porsche elétrico e, do ponto de vista da qualidade da experiência, nunca fico desiludido. Com o Taycan não se punha a questão de ser um bom Porsche — que inegavelmente é — mas sim quão bom era como veículo elétrico. A eficiência energética e o alcance com uma carga, bem como a durabilidade e fiabilidade desta nova solução eram as principais incógnitas. Ao passar para o Macan, é visível o apuro tecnológico para colocar a fasquia mais alta num modelo que também tem outras ambições em termos de unidades vendidas. 

E aqui, se nenhum dos modelos desilude, fica a ideia de que o Macan 4 não tira partido das potencialidades da plataforma, deixando uma experiência de condução demasiado normal. As prestações para o segmento e preço são dentro do normal, ao alcance de bastantes modelos muito mais acessíveis, com as qualidades dinâmicas típicas da marca a serem pouco testadas. A experiência Porsche fica assim um pouco aquém e poderá ser mais difícil ver o fator de diferenciação face até a outros produtos do mesmo grupo. Talvez faça mais sentido esperar um pouco pelo Macan Electric com apenas um motor atrás, mais leve 100 kg, com maior alcance (641 km) e com prestações muito semelhantes. Ou então, pelo Macan 4S, com mais 80 kW (total de 516 cv).

Mesmo nesta volta curta de ida e volta entre Cascais e a Comporta, ficou bem aparente que o Macan Turbo é bastante diferente, com acelerações ao nível de muitos superdesportivo e uma suspensão (e travões) à altura das necessidades. Em termos de consumo, apesar de andarmos mais depressa, a diferença no consumo foi de apenas 1,5 kWh. O Turbo é uns bons dois ou três furos acima em termos de experiência de condução e, aqui sim, fica complicado encontrar rival à altura no mercado, pela competência generalizada que demonstra.

Quando a gama estiver completa e for possível fazer um ensaio mais detalhado, será interessante perceber se o Macan Electric e o 4S se podem afirmar como as opções mais válidas. Mas já deu para ver que o Macan veio para ocupar o topo da escala neste segmento e não deixa de ser positivo ver o produto de um construtor europeu com tão bons argumentos.

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