Se nos SUV a oferta de modelos elétricos já é bastante significativa, no restrito nicho dos automóveis de grande turismo, a Maserati é a primeira a chegar. Há uma certa tradição aqui, já que o Maserati 1500 Gran Turismo, de 1947, é normalmente considerado como o primeiro automóvel de grande turismo. De forma resumida, um GT combina prestações de um automóvel desportivo com um nível de conforto e requinte adequados a viagens longas, sem dispensar uma carroçaria distinta e elegante, que suscite admiração. 

O Maserati GranTurismo Folgore é a interpretação moderna deste conceito, combinando uma bela carroçaria de coupé 2+2 lugares com uma unidade motriz elétrica capaz de debitar 560 kW (761 cv) e 1350 Nm de binário.

Começando pela carroçaria, a disposição clássica do capô dianteiro longo e esculpido, seguido de um habitáculo que, graças a uma linha de tejadilho bastante curva, parece mais pequeno do que realmente é. a secção traseira curta, remata com elegância uma silhueta com linhas dinâmicas muito definidas, mas sem exuberância. A unidade ensaiada era azul escura ‘Blu Nobile’, mais discreta, mas as formas atléticas do GranTurismo ficam ainda mais realçadas na cor acobreada ‘Copper Glance’. 

Bom gosto e requinte

No interior, o bom gosto permanece, na escolha de materiais sóbrios e de qualidade e com apontamentos de design apurados. A tecnologia está bem presente nos diversos ecrãs e não falta o íconico relógio no centro do tabliê permanece lá, mas agora é digital e multi-funções. 

Quanto ao conforto dinâmico, o GranTurismo Folgore tem um excelente amortecimento na definições standard, que é o modo GT, graças também à versatilidade da suspensão pneumática. É perceptível a mudança para os modos Sport e Corsa, com o amortecimento muito mais rigoroso. 

Um pormenor interessante, também com duas áreas distintas, é o do som. Se há algo que os entusiastas de automóveis desportivos mais lamentam nos elétricos é a ausência de um som emocionante. No caso deste Maserati, é possível escolher entre o quase silêncio possível neste tipo de veículos ou um som desportivo que a equipa técnica modulou inspirada nos míticos motores V8 marca, mas integrado no som que um Maserati elétrico deve ter. O resultado é um suave borbulhar, que aumenta de intensidade e profundidade com a aceleração. Funciona realmente bem e em sintonia com a aceleração e entrega de potência. 

Técnica VE evoluída

O GranTurismo Folgore tem três motores, estando dois atrás, numa estrutura de tração integral e o pack de bateria organizado em T, permitindo um piso muito baixo do veículo. A potência combinada dos três motores desenvolvidos com base na tecnologia da Formula E é de 900 kW, ou mais de 1200cv. Os motores traseiros não têm ligação mecânica entre eles, o que permite uma vetorização de binário independente para cada roda.

O sistema elétrico de 800 Volts permite que a bateria receba carga com mais potência, mas também permite uma descarga mais rápida, neste caso, de até 610kW, o que garante a disponibilidade constante da potência máxima de 560 kW (ou 761 cv). A diferença entre a potência combinada dos motores e a potência máxima disponível deve-se à limitação de descarga de energia da bateria, mas a margem disponível em cada motor também permite que o sistema otimize a entrega de potência de cada unidade motriz, se as condições assim o exigirem. A soma de todos é que não supera, neste caso, os 560 kW e os 1350 Nm de binário imediatamente disponível.

A bateria tem uma capacidade utilizável de 83 kWh (total de 92,5 kWh) e o carregador embarcado aceita até 22kW de potência em corrente alternada (AC). Num posto de carregamento ultrarrápido, é possível carregar a uma potência máxima de 270 kW em corrente contínua (DC). Na primeira, em uma hora é possível carregar até 100 km de autonomia, na segunda, 5 minutos chegam para receber a mesma quantidade de energia.
O alcance oficial com uma carga no ciclo WLTP é de 450 quilómetros. 

Múltipas personalidades

Estão disponíveis quatro modos de condução, incluíndo o já referido GT, em que a potência está limitada a 80%. Existe um modo Max Range, que limita a velocidade máxima a 130 km/h, reduz a resposta do acelerador e também a capacidade da climatização. 

O modo Sport liberta a potência máxima, torna o amortecimento mais firme e limita a tendência da subviragem, ficando o controlo de tração mais permissivo.
O modo Corsa, para utilizar apenas em asfalto sem imperfeições, baixa a altura do GranTurismo e entrega o controlo quase exclusivamente ao condutor que, daqui em diante, é tratado como piloto, podendo escolher a forma como a vetorização de binário altera o comportamento do GranTurismo. A instrumentação também se foca no essencial para o desempenho desportivo, incluíndo a monitorização da temperatura da bateria.

O GranTurismo é um dos elétricos mais rápidos do mercado, capaz de acelerar dos 0-100 km/h em 2,7 segundos, dos 0-200 km/h em 8,8 segundos e tem uma velocidade máxima de 325 km/h. E isto num conjunto que pesa mais de duas toneladas (o peso homologado é mesmo de 2260 quilos)

Felizmente, os travões parecem estão dimensionados para dar resposta, com discos ventilados de 380 milímetros à frente e de 350 milímetros atrás, com as pinças Brembo nesta cor cobre, exclusiva da versão Folgore. 

Condução desafiante, mas só se quisermos

O GranTurismo acaba por esconder muito bem o seu peso em quase todo o tipo de utilizações e só mesmo quando procuramos atingir os seus limites dinâmicos é que ele se revela. O modo mais desafiante de condução acontece quando selecionamos o modo Corsa e, nas definições avançadas, colocamos o ênfase na agilidade no parâmetro de vetorização de binário e pomos o controlo de tração em modo Pro. As quatro rodas lutam pela tração após a descarga quase instantânea de 761 cv de potência no asfalto salpicado com um aguaceiro recente. O GranTurismo, sempre muito neutro e composto, ganha um pendor altamente sobrevirador, em que cada aceleração em curva leva a traseira a derivar rapidamente, exigido correcções imediatas no acelerador e no volante. Todas as ações do condutor têm impacto imediato, mas é difícil perceber exatamente como o veículo vai reagir a seguir. Talvez falte a ligação mecânica de um diferencial mecânico, um pouco mais lento e previsível para o nosso cérebro. Mas não há duvida de que transforma a condução do GranTurismo de forma radical, idealmente para experimentar em circuito.

Há que reconhecer que a Maserati fez um excelente trabalho com este automóvel, cujas versões a gasolina já tinham recebido muitos elogios. Com um preço de venda a começar nos 208 mil euros, o GranTurismo Folgore mantém também a tradição de exclusividade dos Grande Turismo Maserati. Alimentado a electrões, não perdeu o charme nem as competências que os clientes deste tipo de automóveis exige. É, realmente, um automóvel elétrico muito diferente dos restantes no mercado. Ainda bem que existe.

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