Foto: StockSnap/Pixabay

Oito em cada dez vezes que uma ave embate numa superfície transparente ou espelhada, essa colisão é fatal, estimou a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, alertando para uma ameaça cada vez mais generalizada em Portugal.

A colisão das aves com superfícies transparentes ou espelhadas causa anualmente a morte a muitas centenas de milhões de aves por todo o mundo.

Esta causa não-natural é uma das ameaças menos estudadas e mais subvalorizadas na Europa, existindo pouca informação sobre as espécies afetadas e os principais fatores de risco em Portugal, avança o comunicado da SPEA.

Segundo a SPEA, esta ameaça tem vindo a tornar-se mais preocupante à medida que se generaliza a utilização de superfícies transparentes, como esplanadas, campos de padel ou protetores de autoestradas, e espelhadas, como fachadas e janelas de edifícios recentes.

Superfície espelhada que reflete o jardim de uma moradia, e onde já se registaram diversas colisões de aves. (Foto: A. Martins). Fonte: Relatório da SPEA

A associação lançou, em outubro de 2023, uma iniciativa denominada ciência-cidadã, para que os cidadãos avisassem sempre que vissem uma ave a colidir ou que tivesse colidido com uma barreira transparente ou espelhada, através de um questionário. O objetivo era recolher informação para depois encontrar soluções para cada local crítico.

vidros transparentes e janelas espelhadas são uma ameaça cada vez mais generalizada em Portugal para as aves.

A partir do formulário disponibilizado ao público foram recolhidos 89 registos a reportar a colisão de 124 aves de 29 espécies diferentes.

Das observações efetuadas pelas pessoas estima-se que a taxa de mortalidade devido a colisões deste tipo seja de cerca de 82%, “um número alarmante”, tendo-se verificado que 64% dos embates resultaram na morte imediata das aves.

Contudo, o relatório da SPEA destaca que a taxa de mortalidade pode estar a ser subestimado porque existem estimativas de que cerca de metade das aves que sobrevivem a este tipo de embates acaba por morrer nas horas seguintes, devido às lesões sofridas.

Edifício acabado de construir no concelho de Oeiras (outubro 2024), onde é possível verificar na mesma fachada, uma quantidade significativa de superfícies espelhadas (janelas) e também de superfícies transparentes (guarda-corpos das varandas). Este tipo de superfícies são cada vez mais utilizadas nas construções recentes, sobretudo pelo elevado valor estético. Fotos: Hany Alonso. Fonte: Relatório da SPEA

Com base nos dados recolhidos ao longo de um ano, existem algumas espécies que parecem ser particularmente sensíveis a esta ameaça.

De acordo com os dados recolhidos, o pardal Passer domesticus é a vítima mais frequente de colisões com as superfícies transparentes/espelhadas.

No caso do guarda-rios, do gavião e do papa-moscas-preto, a morte por colisão com superfícies transparentes ou espelhadas corresponde a uma percentagem significativa da mortalidade não-natural.

Exemplo de uma paragem de autocarro com protetores de vidro transparentes. Neste caso, esta estrutura aparentemente inofensiva já terá causado a morte a dezenas de aves, incluindo várias toutinegras (Fotos: M. Góis). Fonte: Relatório da SPEA

Para além disso, as aves migradoras estão entre as mais afetadas – além do papa-moscas-preto, outras migradoras como as toutinegras e felosas foram também impactadas.

“Uma parte significativa das colisões registadas foram em janelas espelhadas de moradias, pelo que os cidadãos também podem ter um papel importante para mitigar o impacto desta ameaça. Por essa razão, é também importante falarmos deste problema e de possíveis soluções”, diz o técnico da SPEA responsável por coordenar esta iniciativa, Hany Alonso, em comunicado.

Exemplos de registos de colisão reportados: a) vestígio de colisão depois do embate de um pombo-doméstico numa janela de apartamento, b) vários papa-moscas-pretos mortos no passeio junto à janela espelhada de um stand automóvel, c) toutinegra-das-figueiras que embateu numa porta de vidro e d) um pisco-de-peito-ruivo que embateu na janela espelhada do pátio de uma moradia. Fotos: Manuela Alcobia, Daniel Raposo e Rafaela Ferraz (2). Fonte: Relatório da SPEA

Que soluções?

Com base nos dados recolhidos e em estudos internacionais, a SPEA recomenda que, “sempre que possível, se considere utilizar outros materiais, e que se evite em especial instalar superfícies transparentes e/ou espelhadas em áreas sensíveis como ribeiras, zonas húmidas, ou parques, jardins e outros locais com vegetação abundante”.

Nas situações em que forem instaladas superfícies espelhadas ou transparentes, a SPEA apela a que se incluam medidas que “reduzam o risco de colisão, como instalar autocolantes ou películas anti-adesão para torná-las mais visíveis para as aves, estas devem ser instaladas no exterior da superfície, e cobrir toda a área”.

Guarda-corpos transparentes em miradouro no concelho de Carrazeda de Ansiães. As aves simplesmente não veem a barreira transparente, apenas a paisagem verde circundante. (Foto: N. Domingues). Fonte: Relatório da SPEA

A SPEA pede ainda às autoridades locais e às empresas para que adotem estas boas práticas e para que considerem este problema na elaboração de estruturas urbanísticas, de modo a proteger a avifauna nacional e preservar a biodiversidade.

A SPEA elaborou este documento que fornece pistas de como proceder. Pode fazer o download aqui:

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