O republicano Donald Trump toma posse como Presidente dos EUA no dia 20 de janeiro de 2025 e, tendo por base todas as suas intervenções favoráveis à utilização de combustíveis fósseis e de crítica a medidas ambientais, há um temor na comunidade internacional de que o papel dos EUA no combate às alterações climáticas possa ficar mais diminuído. Nesse contexto, o presidente cessante, o democrata Joe Biden, parece querer comprometer a ação de Trump nesta matéria, ao fixar, em fim de mandato, uma nova meta de redução das emissões de gases com efeito de estufa para os Estados Unidos.
Os EUA, o segundo maior poluidor atrás da China, planeia agora reduzir as suas emissões entre 61% e 66% até 2035, em comparação com os níveis de 2005, de acordo com o plano anunciado como parte do Acordo de Paris de 2015.
Anteriormente, Washington tinha-se comprometido a reduzir as emissões para metade até 2030 e a alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Este novo roteiro é “o programa climático mais ousado da história dos Estados Unidos”, segundo Joe Biden.
Washington tinha até fevereiro para apresentar este plano à ONU, mas Biden parece não ter querido deixar este dossier nas mãos do seu sucessor.
Cada país é livre de fixar os seus próprios objetivos, mas deve revê-los em alta de cinco em cinco anos.
“Vamos transformar esta ameaça existencial numa oportunidade única para transformar o nosso país para as gerações vindouras”, acrescentou o ainda Presidente.
Para o efeito, a administração Biden conta, nomeadamente, com o desenvolvimento de novas tecnologias, energias renováveis e melhoria do desempenho energético dos edifícios.
Durante o seu mandato, Joe Biden promoveu projetos ambiciosos, incluindo grandes investimentos na transição energética.
Mas os Estados Unidos, que continuam a ser o maior produtor mundial de petróleo e gás, estão a ficar para trás.
O país só conseguiu uma redução de 18% das emissões em 2023 e só deverá conseguir entre 38% a 56% até 2035, de acordo com o centro de investigação Rhodium Group.
Regresso temido de Trump à Casa Branca
A porta-voz de Donald Trump, Karoline Leavitt, reagiu, elogiando as políticas passadas do republicano, que, segundo ela, permitiram “progressos na conservação e gestão do ambiente, ao mesmo tempo que promoveram o crescimento económico”.
Num comunicado enviado à AFP, acrescenta que o seu segundo mandato permitirá a limpeza do ar e da água, sem mencionar a vontade do Presidente eleito de se afastar destes compromissos.
O regresso de Donald Trump ao poder, a 20 de janeiro, é suscetível de perturbar estes planos, uma vez que o republicano não escondeu as suas posições sobre o assunto, que vão desde o apoio aberto aos combustíveis fósseis até à possibilidade de se retirar do Acordo de Paris, do qual os Estados Unidos já se tinham retirado brevemente durante o seu primeiro mandato.
A Oil Change International discordou já das metas traçadas por Joe Biden, afirmando que estas medidas fazem “parte da estratégia falhada de confiar nas energias renováveis para substituir os combustíveis fósseis sem fazer esforços simultâneos para acabar com os combustíveis fósseis”.
Perante o risco de Donald Trump ignorar este roteiro, o enviado de Joe Biden para o clima, John Podesta, assegurou aos jornalistas que confiava na capacidade do setor privado e das autoridades locais para “fazer as coisas”. No entanto, admitiu que as políticas federais decididas pelo republicano podem “colocar a ação climática em segundo plano”.
“Embora a administração Trump possa não mexer um dedo para implementar este plano, ele estabelece uma referência para o rumo que os EUA devem seguir”, afirmou Debbie Weyl, do World Resources Institute, congratulando-se com os novos objetivos, que incluem uma redução de pelo menos 35% das emissões de metano, um poderoso gás com efeito de estufa.
“É bom ver um compromisso um pouco mais ambicioso, mas caberá aos governos e a outros líderes nacionais desafiar Trump”, disse Jean Su, do Centro para a Diversidade Biológica.