A indústria automóvel europeia pediu mais flexibilidade à União Europeia (UE), bem como o fim das multas por excesso de emissões para este ano para não prejudicar a competitividade do setor e manter o rumo.
“Não se trata de mudar o destino, trata-se de ajustar a forma como lá chegamos”, disse a diretora geral da Associação Europeia dos Construtores de Automóveis (ACEA), Sigrid de Vries, em conferência de imprensa.
Os fabricantes de automóveis querem uma alteração dos requisitos das metas ambientais, face às previsões menos otimistas para o setor, mas também para os ganhos de quota de mercado nos veículos elétricos.
Sabia que…
… a indústria automóvel representa cerca de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) da UE?
Executivo europeu e indústria automóvel têm estado em conversações, as quais se intensificam esta semana e a próxima com encontros entre as duas partes com o comissário para o Clima, Wopke Hoekstra (última quarta-feira), a vice-presidente comunitária para o Emprego, Roxana Minzatu (passada quinta-feira) e com a responsável pela soberania tecnológica, Henna Virkkunendas (próxima semana).
Destas reuniões, é suposto sair um plano de ação automóvel, que será apresentado pela Comissão Europeia em 05 de março, e que decorre sob supervisão da presidente, Ursula von der Leyen.
O argumento dos fabricantes pretende restaurar a competitividade da indústria europeia perante uma eletrificação mais lenta que o esperado, na medida em que, em 2024, as vendas de elétricos na UE baixaram 5,9% face a 2023.
Do lado da indústria, são muitas as queixas, desde a falta de desenvolvimento do ecossistema para a produção de baterias, à escassez de pontos de carregamento ou à falta de incentivos fiscais para a compra de veículos com menores emissões.
Ainda assim, os fabricantes asseguram que a eletrificação veio para ficar, mas que pode ser feito um ajustamento para uma transformação funcional.
“As soluções que estão em cima da mesa para os veículos ligeiros são flexibilidades e não uma reviravolta na política de descarbonização. Não há volta a dar à transição – os mais de 250 mil milhões de euros de investimentos dos fabricantes de veículos em tecnologias de emissões zero são a melhor prova disso”, afirmou Sigrid de Vries, Diretora-Geral da Associação dos Construtores Europeus de Automóveis (ACEA).
Receio de multas pesadas
Com o início de 2025, a indústria automóvel teve de cortar as emissões médias de dióxido de carbono em 15% face a 2021, para um valor médio de 93,6 g/km no regime WLTP. Os objetivos são maiores num futuro não muito distante, pretendendo-se alcançar cortes de 55% em 2030 e de 100% em 2035. Falhando estas metas, são aplicadas multas por veículo. Mas se há quatro anos a indústria pagou multas acumuladas em cerca de 500 milhões de euros, agora o setor estima que as compensações atinjam até 16 mil milhões de euros.
Perante isto, os construtores dizem que se não houver um desagravamento destas multas a curto prazo – tanto para veículos de passageiros, como de mercadorias –, estes recursos vão ser desviados dos investimentos em tecnologia limpa.
As marcas de automóveis pedem alternativas, uma vez que o impacto até agora tem sido mitigado pela redução na produção e de postos de trabalho. O grande obstáculo é, por agora, a incerteza regulamentar e o seu impacto nas decisões de investimento, depois de as vendas de veículos elétricos terem caído entre março e outubro de 2024 – numa quebra comparável à registada durante a pandemia.
Os fabricantes também estão preocupados com as guerras comerciais, depois da UE ter aplicado tarifas de até 35% alegando que Pequim subsidia ilegalmente os seus fabricantes.
Uma das propostas citada pela agência de informação Efe e que tem levantado interesse no executivo comunitário passa pela aplicação de quotas de veículos não poluentes nas frotas das empresas, que representam cerca de 40% dos novos veículos vendidos na UE.
Ainda assim, este conceito apresenta também desvantagens, uma vez que as empresas podem renovar as suas frotas com menos frequência caso a infraestrutura de carregamento não seja suficiente.