As emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) causadas pela guerra na Ucrânia aumentaram 31% em 12 meses e em três anos ultrapassaram as 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), indica um estudo divulgado esta segunda-feira, 24 de fevereiro, quando se assinalam três anos da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022.
O estudo “The Iniative on GHG accounting of war” indica que o custo climático da invasão atingiu um novo patamar, com as emissões a atingirem 229,7 milhões de toneladas de CO2 desde que começou a guerra.
O estudo é apoiado pelo governo ucraniano e tem como coautora Svitlana Krakovska, membro do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla original), que apresentará as conclusões na segunda-feira, na 62.ª sessão do IPCC, em Hangzhou, na China.
O valor é equivalente às emissões anuais da Áustria, Hungria, República Checa e Eslováquia juntas ou às emissões anuais de 120 milhões de automóveis.
O cálculo, da responsabilidade de uma associação de especialistas em clima, tem em conta as emissões de GEE causados pela guerra (responsáveis por 36% das emissões), reconstrução de edifícios (27%), incêndios florestais (21%), danos em infraestruturas energéticas (8%), aviação civil (6%) e deslocação de refugiados (2%).
O relatório, que só contabiliza as emissões relacionadas com o conflito, apurou que os GEE ultrapassaram os 100 milhões de toneladas no primeiro ano de conflito e ao fim de dois anos estavam acima dos 150 milhões, sendo o maior aumento no terceiro ano de guerra, para os quase 230 milhões.
“Os danos ambientais não conhecem fronteiras e a guerra está a agravar a crise climática que o mundo inteiro enfrenta atualmente” – ministra da Proteção Ambiental e dos Recursos Naturais da Ucrânia, Svitlana Grynchuk
Com a continuação dos combates, os veículos pesados a queimar combustível, o consumo de aço e betão nas fortificações, as emissões da atividade militar “continuaram a crescer de forma constante nos últimos 12 meses”, ultrapassando a outra grande categoria de custos climáticos, a reconstrução de edifícios e infraestruturas danificadas, notam os autores do documento.
De acordo com o estudo, os combates e a seca intensa no verão na Ucrânia conjugaram-se para que duplicasse (118%) a área ardida provocada pelos incêndios florestais relacionados com o conflito (a maior parte deles na linha da frente), em comparação com a média anual dos dois anos anteriores. Em 2022 arderam 29 mil hectares, em 2023 arderam 47,7 e no ano passado 92,1.
As emissões de GEE dos incêndios nos três anos de guerra ultrapassaram em 2024 os 48 milhões de toneladas.
Rússia deve ser responsabilizada pelos danos climáticos
Os autores defendem que a Federação Russa deve ser responsabilizada pelas emissões e pelos danos climáticos causados e aplicaram um “custo social do carbono” de 185 dólares americanos por tonelada de CO2, o que coloca à Rússia, após três anos de guerra, uma dívida de 42 mil milhões de dólares.
“O ano de 2024 foi o ano em que o clima e o conflito se combinaram, conduzindo a extensões de florestas queimadas que excedem em muito tudo o que vimos antes na Ucrânia e na Europa. Com as negociações de paz no ar, os custos climáticos não devem ser esquecidos. A Rússia começou esta guerra e deve suportar os custos das suas emissões climáticas”, diz, citado no relatório, Lennard de Klerk, o principal autor do documento.