A exposição “Não Descartáveis” chega a Cascais para provocar reflexão e inspiração. Pensada e criada por Ana Mesquita – MESQ – Não Descartáveis é mais do que uma mostra de arte. Trata-se de um manifesto visual que utiliza materiais reutilizados e composições manuais para reafirmar a importância da sustentabilidade e da inclusão na sociedade contemporânea.

Para Ana MESQuita, “Do mesmo modo como a natureza produz flores e dá frutos, diariamente o mundo pulsa de energia criativa e a humanidade cria obras de arte.

Cada artista, fiel a si à sua constante curiosidade, com base no que intui do passado para o futuro, fornece a História de novas ilusões. Com isto defende-se das agruras que a sensibilidade deteta e transforma o medo em símbolos de coragem”.

Da ideia embrionária em 2019 à concretização da exposição agora em 2025, bem como o apoio da Câmara Municipal de Cascais, que gentilmente oferece o espaço histórico onde irá habitar por vários meses, a artista reabilitou o espaço e instalou um atelier, uma mini sala de cinema em tríptico e áreas de galeria onde está patente um conjunto de 25 obras, das quais consta uma instalação site-specific.

Não Descartáveis

O projeto conta com o apoio da Sociedade Ponto Verde (SPV), e no processo criativo de anaMESQuita é clara a reutilização de materiais recicláveis, como embalagens de cartão e papel, bem como um delicado assemblement de pequenos objetos que remetem para o mundo animal, a banda-desenhada e a natureza.

Além de embalagens, foram reaproveitados ecopontos de cartão para a criação de várias peças, nomeadamente na instalação “Cidade”, que ocupa o pé-direito da entrada do primeiro andar da exposição, e na escultura de parede “Cavalo Marinho”. A artista trabalhou ainda outros ecopontos que se encontram em exibição em vários locais do espaço. Todas estas intervenções traduzem um modo criativo baseado em resíduos de embalagens e no potencial da economia circular, reafirmando a importância do compromisso da SPV para com a sustentabilidade e a arte.

Ainda no âmbito desta parceria, ana MESQuita vai realizar encontros com grupos da comunidade, através dos quais vai partilhar a construção de algumas obras, num constante apelo à arte como base de apelo a uma consciência ambiental. Esta ação vai decorrer, nomeadamente, sob a chancela da Academia Ponto Verde, que é o programa da SPV para a comunidade escolar, dando a oportunidade aos participantes de aprender como os resíduos de embalagens podem ter uma segunda vida e transformar-se em peças de arte.

Também a campanha de comunicação da exposição reflete o compromisso com a sustentabilidade, com alguns dos materiais publicitários, nomeadamente colocados em mupi, a serem produzidos em papel reciclado. A campanha será ainda veiculada no digital, com foco nas redes sociais.

Para Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, “é com enorme gosto que apoiamos a Exposição Não Descartáveis, que une a cultura com o desígnio da SPV com a sustentabilidade, a economia circular e a reciclagem de embalagens. O processo criativo, como este que aqui vemos, deve ser entendido como uma forma de evitar o descarte e valorizar os resíduos, através da transformação e da sua reutilização, neste caso, em peças artísticas.”

“Projetos como este permitem mostrar como é possível dar uma nova vida aos resíduos, nomeadamente de embalagens, e servem de inspiração à sociedade, para que se olhe para estes mesmos resíduos como recursos, se repense o modo como agimos e se pondere a reutilização, além da reciclagem. Acredito que a arte tem o poder de sensibilizar para a importância da reciclagem de embalagens, e, por isso também estamos a integrar, no âmbito desta exposição, a Academia Ponto Verde para levar alunos a participar nos workshops dados pela artista. Esta exposição é o exemplo claro de que ações que unem criatividade, inovação e sustentabilidade podem gerar impacto positivo na comunidade”, acrescenta a CEO da Sociedade Ponto Verde.

Os materiais que criam as peças da exposição fundem-se na perfeição com a verdade da artista que ao longo de anos recolheu o que restava dos seus dias, transformando resíduos que poderiam ter sido descartados em preciosos detalhes de composições onde podemos ler palavras escolhidas a dedo, sugerindo mensagens metafóricas, carregadas de recados. Ou apenas elementos cromáticos, realçando os aspetos gráficos de maior impacto do grafismo das embalagens.

A artista escolhe uma paleta de cores que é praticamente transversal às 25 obras patentes no espaço do Relógio, e com ela desenvolve uma coleção onde cada peça se destaca pela técnica utilizada, numa discreta coerência formal, feita de colagens bi e tri dimensionais, cujo o resultado final é pura ironia e luz.

A fase de colagens e assemblement, profundamente analógica e exigente na minucia da mão-de-obra, surge após uma década dedicada ao desenho e colagens digitais, também representadas na exposição.  Destaque para as obras em caixas de luz, com desenhos que lembram teias e tramas, escolhidos de entre as centenas que ana MESQuita fez para constarem da obra de vídeo Viagem Pelo Esquecimento, que realizou em 2022, e se encontra também patente no espaço.

Neste primeiro andar do edifício do Relógio a artista permaneceu diversos meses, focada e inspirada na criação de peças únicas, com destaque para as esculturas e a obra Temos Tudo: uma renda de papel que resume o conceito de Não Descartáveis: “Vivemos rodeados de conforto neste Ocidente estragado de mimos, que se queixa de tudo, em lugar de construir, com recursos emocionais, intelectuais e tecnológicos únicos da História do Homem!”, reforça Ana Mesquita.

A exposição conta com um atelier vivo, onde o público pode acompanhar o processo criativo da artista e onde estão previstas atividades (extra exposição) como as aulas de Yoga com a professora Inês Roseta. No aspeto inclusivo, o Café Joyeux, as Misericórdias de cascais e Lisboa, bem como a Associação Quinta Essência estão presentes neste projeto. 

Totalmente projetada pela artista ana MESQ, a exposição dá continuidade ao processo artístico iniciado em 2017, no qual a capacitação de diferentes públicos através da arte se torna o cerne do projeto.

Um percurso de inovação e expressividade

Com uma carreira multifacetada, MESQ transita entre o desenho, o design, o jornalismo e a videoarte. Formada em Design de Moda pelo Citex, no Porto, encontrou na expressão visual sua forma mais autêntica de comunicação. O seu percurso inclui colaborações no jornalismo, participação em programas de rádio e televisão e a curadoria de projetos culturais de grande impacto.

Entre as suas realizações notáveis estão a homenagem “FRIDA MIRANDA”, apresentada no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, a exposição “TEMPERAMENTO”, tributo a Amadeo de Souza-Cardoso, e sua atuação no diálogo entre arte e música, criando cenários visuais para espetáculos ao vivo, como “Caixa de Luz”.                                                                                                                         

Em 2022, seu trabalho “Viagem Pelo Esquecimento” foi inaugurado no MAAT, marcando a fusão entre videoarte, música e poesia, em uma colaboração com o compositor João Gil e o escritor Mia Couto.

A entrada é livre.

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