A redução da proteção do lobo é “uma decisão errada”, sem benefícios para as comunidades rurais e que coloca interesses políticos acima da ciência, considera uma coligação de organizações internacionais.
Os comentários, divulgados num comunicado da WWF Portugal, surgem no mesmo dia em que a Comissão Europeia apresentou uma proposta para alterar o estatuto dos lobos de “estritamente protegidos” para apenas “protegidos”, permitindo a cada país do bloco comunitário “flexibilidade adicional” para controlar as populações destes animais.
Em comunicado, o executivo de Ursula von der Leyen anunciou que a alteração foi feita ao abrigo da Convenção de Berna, que começou a ser aplicada a partir de agora.
“Esta medida não traz benefícios reais para as comunidades rurais e, ao mesmo tempo, mina completamente a oportunidade de continuar a investir em medidas preventivas para promover a coexistência”, contesta a coligação de organizações não governamentais composta pela WWF, BirdLife Europe, ClientEarth e o European Environmental Bureau, que apela aos Estado-Membros e ao Parlamento Europeu para que protejam a integridade da Diretiva Habitats e resistam a qualquer tentativa de a enfraquecer.
“O ataque da UE ao lobo cria um precedente extremamente perigoso para a política de conservação da natureza”, acusam os ambientalistas.
As organizações recordam que, em dezembro de 2023, Ursula von der Leyen tornou-se a primeira presidente da Comissão Europeia a propor a redução do estatuto de proteção de uma espécie num fórum internacional. E lembram que Portugal se posicionou então contra a redução da proteção, e que a atual ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, alterou o sentido de voto e votou a favor, em setembro do ano passado.
“Em vez de fortalecer a natureza na Europa – a nossa melhor aliada contra as crises climática, da biodiversidade e da poluição – a UE continua a reverter um dos maiores sucessos da conservação nas últimas décadas. O ataque da UE ao lobo cria um precedente extremamente perigoso para a política de conservação da natureza, pois ignora a abordagem baseada na ciência e transforma a proteção das espécies numa moeda de troca política”, refere o comunicado citando a coligação de organizações.
Os lobos, salientam, representam um elemento-chave dos ecossistemas, já que, como predadores de topo, ajudam a manter o equilíbrio natural e apoiam a diversidade da vida selvagem.
Reduzir proteção do lobo é errado, defende coligação de ONG de ambiente
A WWF Portugal recorda também que o lobo-ibérico está classificado pelo Livro Vermelho de 2023 como “Em Perigo”, estando em pior estado do que em Espanha, e os dados indicam que têm sido “escassos e pouco ambiciosos” os esforços do Governo para travar o declínio da espécie.
Reduzir a proteção do lobo “compromete décadas de esforços de conservação e estabelece um precedente perigoso para a biodiversidade”, alerta no comunicado Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas da WWF Portugal.
Em dezembro, a WWF (“World Wide Fund for Nature”) alertava que enfraquecer a proteção do lobo era “um grave passo em falso, desprovido de qualquer base científica sólida”, e acusava os países que votaram a favor da medida de apoiarem “decisões politicamente motivadas, aparentemente influenciadas por razões pessoais, depois de o pónei da presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen, ter sido morto por um lobo em 2022”.
Esta semana, na comissão parlamentar de Ambiente, questionada por deputados, a ministra garantiu que Portugal não baixou a proteção do lobo e recordou a criação do Programa Alcateia 2025-2035, precisamente para reforçar a proteção do lobo em Portugal.