No dia em que faleceu o Papa Francisco (1936-2025), recordamos frases e ideias que o líder da Igreja Católica transmitiu ao longo dos seus doze anos de Pontificado acerca do ambiente ou das alterações climáticas.

Na sua primeira missa como Papa, a 19 de março de 2013, seis dias após ser eleito, Francisco disse que um Papa é alguém que deve “pôr os seus olhos no serviço da humildade” e recomendou aos políticos presentes que defendam os mais pobres e o ambiente.

A 24 de maio de 2015, Francisco assina a segunda encíclica, “Laudato Si” (“Louvados sejas”), com críticas ao consumismo e ao desenvolvimento irresponsável, fazendo um apelo à mudança para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas.

Essa encíclica, que tem como subtítulo “Sobre o Cuidado da Casa Comum”, aborda o cuidado com o ambiente e com todas as pessoas, bem como de questões mais amplas da relação entre Deus, os seres humanos e a Terra.

“Laudato Si” foi a primeira encíclica na Igreja, totalmente dedicada à ecologia.

A escolha do nome “Laudato Si’” é uma citação do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, em que este santo louva a Deus meditando sobre a bondade do sol, do vento, da terra, da água e de outras forças naturais.

A escolha dessa passagem para iniciar a “Laudato Si’” é um lembrete de como as pessoas de fé devem não apenas respeitar a Terra, mas também louvar e honrar a Deus através do seu envolvimento com a criação.

A ideia de ecologia integral é destacada pelo Pontífice que considera que “tudo está intimamente relacionado e que os problemas atuais requerem um olhar que tenha em conta todos os aspetos da crise mundial”. Francisco propõe que se fale de ecologia ambiental; ecologia económica e social; ecologia cultural; e ecologia da vida quotidiana.

A relação entre a natureza e a sociedade que a habita impede-nos “de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida. Estamos incluídos nela, somos parte dela e compenetramo-nos”, afirmou.

“Se o ser humano se declara autónomo da realidade e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a própria base da sua existência, porque em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba por provocar a revolta da natureza”, disse.

Nesta sua carta, Francisco exorta a uma “conversão ecológica”: “A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior”, mas também uma conversão comunitária.

“Temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar os seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspeto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa”, escreveu.

O Papa Francisco refere nesta encíclica que a humanidade precisa mudar, tomando consciência “de uma origem comum, de uma recíproca pertença e de um futuro partilhado por todos”. Isto permitiria “o desenvolvimento de novas convicções, atitudes e estilos de vida”.

Quénia, 2015

Na sua visita ao Quénia, em 2015, o Papa discursou na sede das Nações Unidas aí localizada em Nairobi (UNON), depois de plantar uma árvore no parque do centro da cidade. Esta viagem ocorreu meses após a publicação da Laudato Si’, pelo que Francisco aproveitou a oportunidade para a divulgar naquele país e em todo o continente africano.

O Pontífice apelou a “proteger e administrar responsavelmente esses pulmões do planeta cheios de biodiversidade [como] a bacia do rio Congo, um lugar essencial para todo o planeta e para o futuro da humanidade”.

TED Countdown

No ano 2020, foi lançada a TED Countdown, uma iniciativa global para defender e acelerar soluções para a crise climática. O Papa Francisco participou na iniciativa, exortando os indivíduos e as organizações a forjar um futuro mais propício à vida através de “ações concretas e urgentes” e a desinvestir nos combustíveis fósseis.

“A criação precisa desesperadamente do nosso amor”, referiu, acrescentando que “a nossa consciência diz-nos que não podemos ficar indiferentes ao sofrimento dos necessitados, às crescentes desigualdades económicas e injustiças sociais”.

Dia da Terra

No Dia da Terra, em 22 de abril de 2021, o Papa enviou uma mensagem vídeo, na qual aponta que “a crise da COVID e a crise climática mostram que não temos mais tempo para esperar. Que o tempo urge e que, como nos ensinou a COVID-19, temos os meios para enfrentar o desafio. Nós temos os meios. Agora é a altura de agir, estamos no limite”.

Francisco disse ainda: “Deus perdoa sempre, os seres humanos perdoam de vez em quando, a natureza nunca”.

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Durante a Semana Laudato Si’ 2021, o Papa Francisco lançou a Plataforma de Ação Laudato Si’, uma ferramenta de transformação para a família católica global alcançar a sustentabilidade total na década de 2020-2030.

“Cultivemos o respeito pelos dons da Terra e da criação, inauguremos um estilo de vida e uma sociedade eco-sustentáveis. Temos a oportunidade de preparar um amanhã melhor para todos. Recebemos um jardim das mãos de Deus, não podemos deixar um deserto aos nossos filhos”, disse o Papa Francisco.

Juntamente com o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, o projeto procura formar instituições, comunidades e famílias católicas para implementarem a Laudato Si’ nas suas vidas.

Filme “The Letter”, em 2022

Em 2022, foi lançado o filme “The Letter” (“A Carta”), um documentário em que o Papa Francisco foi protagonista, dialogando com cinco pessoas afetadas pela crise climática.

O filme, apresentado pelo YouTube Originals, foi produzido pela equipa vencedora de um Óscar, Off the Fence (My Octopus Teacher), em colaboração com o Movimento Laudato Si’, o Dicastério para a Comunicação e o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.

O mesmo dia do lançamento do filme, 4 de outubro de 2022, marcou a entrada oficial da Santa Sé no histórico Acordo de Paris sobre as alterações climáticas.

Pode ver o filme aqui:

Frases de Francisco sobre o ambiente ao longo dos anos

“Imploramos os dons da sabedoria e da força de Deus aos encarregados de guiar a comunidade internacional para que enfrentem este grave desafio [das alterações climáticas] com decisões concretas inspiradas na responsabilidade para com as gerações presentes e futuras.” – Papa Francisco, 11-11-2021

“O nosso mundo está ameaçado não só pela guerra, mas também por outra grande ameaça, a das alterações climáticas, que põe em perigo a vida na Terra, especialmente as gerações futuras.” – Papa Francisco, no final da oração do Angelus, 26-11-2023

“Com o dinheiro que é usado para armas e outras despesas militares, criemos um fundo mundial para acabar com a fome de uma vez por todas e para realizar atividades que promovam o desenvolvimento sustentável dos países mais pobres, para combater as alterações climáticas.” – Papa Francisco, numa comunicação à 28.ª conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas lida pelo secretário de Estado do Vaticano Pietro Parolin, 02-12-2023

“O ato de deportar pessoas que, em muitos casos, deixaram a sua terra por razões de extrema pobreza, insegurança, exploração, perseguição ou grave deterioração do ambiente, prejudica a dignidade de muitos homens e mulheres, e de famílias inteiras.” – Papa Francisco, 11-02-2025

“Hoje, tudo o que é frágil, como o ambiente, está indefeso em relação aos interesses do mercado divinizado, transformado em regra absoluta.” – Papa Francisco, 18-06-2015

“Estamos a espremer os bens do planeta. A espremê-los como se fossem uma laranja.” – Papa Francisco, 31-08-2020

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Foto de abertura de Susan Melkisethian/Flickr

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