João Bernardo
Presidente do Conselho de Administração do CBE (Centro da Biomassa para a energia)

A produção solar, apesar de crescente e desejável, enfrenta limitações: a maioria dos inversores solares atuais são de tipo grid-following e sincronizam-se com a rede elétrica existente sem conseguir formar ou sustentar essas condições. Se a rede falhar, estes inversores tendem a desligar-se. Ao contrário, as grandes centrais térmicas (a carvão, gás ou biomassa) contribuem ativamente para a estabilidade, providenciando tanto potência contínua como inércia natural.

Segurança Energética: uma Prioridade Indiscutível!

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O encerramento das centrais termoelétricas a carvão do Pego (em novembro de 2021) e de Sines (em janeiro de 2021) trouxe algumas fragilidades ao Sistema Elétrico Nacional (SEN) que, até ao momento, o reforço das renováveis e o aumento da interligação com Espanha não conseguiram colmatar.

A decisão de encerrar estas centrais integrou uma bem-sucedida estratégia nacional de descarbonização. No entanto, a proximidade temporal dos encerramentos aumentou a vulnerabilidade do sistema. Estas centrais para além de fornecer 1884 MW de potência firme e despachável (equivalente a cerca de 8 GW de potência solar ou eólica), eram também fontes críticas de inércia elétrica, elemento essencial para a estabilidade do sistema.

A produção solar, apesar de crescente e desejável, enfrenta limitações: a maioria dos inversores solares atuais são de tipo grid-following e sincronizam-se com a rede elétrica existente sem conseguir formar ou sustentar essas condições. Se a rede falhar, estes inversores tendem a desligar-se. Ao contrário, as grandes centrais térmicas (a carvão, gás ou biomassa) contribuem ativamente para a estabilidade, providenciando tanto potência contínua como inércia natural.

O encerramento das centrais a carvão aumentou a dependência da produção renovável variável. Em cenários de seca prolongada ou baixa produção eólica, Portugal vê-se forçado a recorrer às importações de eletricidade, sobretudo de Espanha. Este intercâmbio pode ser vantajoso em condições de preço favoráveis, mas não elimina o problema central: a segurança do abastecimento, especialmente em situações críticas.

Sem produção térmica nacional de base, a oferta elétrica torna-se menos elástica, o que amplifica a vulnerabilidade aos choques externos — como flutuações de mercado, crises energéticas, eventos climáticos extremos ou conflitos geopolíticos.

Assim, sempre que se retiram infraestruturas térmicas do sistema, torna-se imperativo antecipar e mitigar os riscos, nomeadamente garantindo a prestação contínua dos serviços de controlo de frequência e inércia, indispensáveis para manter a tensão e a frequência dentro de limites seguros. Aliás, a DGEG e a REN já haviam sinalizado estes riscos nos seus alertas públicos e em relatórios como os RMSA-E 2021 e 2022.

O que fazer?

Entre outras medidas que o apuramento técnico dos factos ajudará a clarificar, destacam-se três ações imediatas:

– Desenvolver serviços de reserva rápida que garantam resposta imediata a falhas súbitas de produção ou consumo.
– Implementar soluções de suporte de rede, como baterias de grande escala e compensadores síncronos, que proporcionem estabilidade e capacidade de resposta.
– Promover a adoção de inversores “grid-forming” nas novas instalações solares e a substituição gradual dos inversores existentes.

Foto de destaque de Andrey Metelev na Unsplash

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