Foi publicado um estudo elaborado pela iniciativa internacional sobre cidades sustentáveis Clean Cities Campaign, em que 36 cidades europeias são avaliadas e comparadas em termos de mobilidade urbana das crianças. “Trata-se de um tipo de mobilidade fundamental, pois promove a saúde física e mental da criança, desenvolve autonomia e confiança, e facilita o acesso à escola, ao lazer e à vida em comunidade. Permitir que as crianças se desloquem de forma segura e ativa — a pé, de bicicleta ou em transporte público — ajuda a combater o sedentarismo, cria hábitos sustentáveis, reduz a dependência do automóvel e melhora a qualidade do ar e os níveis de ruído. Além disso, cidades pensadas para crianças são geralmente mais inclusivas, seguras e acessíveis para todos, tornando a mobilidade infantil um verdadeiro indicador de qualidade urbana e justiça social”, refere a associação Zero que é uma das organizações que faz parte desta iniciativa.
Lisboa aparece em penúltimo lugar, sendo das piores cidades em termos de mobilidade infantil, apenas à frente de Sofia, na Bulgária. “Em Lisboa, e noutras cidades mal classificadas, as crianças estão hoje menos livres para se deslocar e menos ativas do que no passado, especialmente as raparigas”, comenta a Zero.

No topo, aparece Paris como a cidade mais bem classificada, “um resultado que se deve principalmente aos esforços do atual executivo para impulsionar a transição da cidade, com medidas como o corte ou condicionamento do trânsito automóvel nas ruas à volta das escolas, ciclovias protegidas e a introdução de um limite de velocidade generalizado de 30 km/h. Caminhar por Paris hoje em dia é como respirar ar puro comparado com há dez anos atrás”, referem os ambientalistas.
No restante top 6 de cidades estão Amesterdão, Antuérpia, Bruxelas, Lyon e Helsínquia, “umas já conhecidas enquanto pioneiras de longa data nestes indicadores, mas outras com evoluções positivas muito recentes, o que mostra que a mudança e o progresso não precisam de muito tempo para poder ocorrer – mas para isso é preciso visão, liderança e investimento”, indica a Zero.
“Cidades há muito na vanguarda da mobilidade urbana progressista, como Amesterdão e Copenhaga, continuam entre as mais bem classificadas, enquanto Paris, Bruxelas e Londres registaram melhorias rápidas que lhes permitiram subir na classificação. Isto demonstra que é possível uma mudança significativa num período de tempo relativamente curto”, diz o Zero, em comunicado.

A Zero e as organizações que fazem parte da iniciativa apelam a que os governos e as autarquias – em particular a Câmara Municipal de Lisboa – adotem uma abordagem centrada nas crianças no que respeita à mobilidade urbana: “Se o fizerem para as crianças estão a fazê-lo para todos”.
De acordo com um inquérito de 2023, a maioria das crianças em Lisboa desloca-se para a escola de carro: 43,9% das viagens escolares são feitas de carro, 27,6% a pé ou de bicicleta e 25,7% de transporte público. Entre 2019 e 2023 esta repartição modal manteve-se praticamente inalterada, com melhorias inexpressivas.

Os níveis de qualidade do ar recolhidos nas estações monitorização da Qualar revelam valores muito acima dos recomendados pela Organização Mundial de Saúde, e em alguns casos acima dos valores-limite legalmente em vigor. Estes valores sugerem que muitas escolas poderão ter níveis de qualidade do ar preocupantes, sobretudo durante as alturas de maior tráfego automóvel.
Estudo avalia três indicadores chave: ciclovias, velocidade máxima e ruas escolares
A iniciativa Cidades Limpas passou cinco meses a recolher dados junto das administrações municipais e outros organismos públicos. As 36 cidades escolhidas representam uma amostra abrangente de localizações geográficas, tamanho e abordagens à mobilidade. Avaliou as cidades com base em três indicadores de adoção recomendada pelas Nações Unidas e pelo Observatório Europeu da Segurança Rodoviária: 1) existência de ciclovias segregadas, i.e., fisicamente separadas dos automóveis, onde as crianças estão e se sentem mais seguras; 2) limite de velocidade máxima de circulação automóvel de 30 km/h de forma alargada na cidade, o que contribui para reduzir a poluição, ruído e os acidentes — uma opção óbvia, segundo a Organização Mundial de Saúde, a OCDE e o Conselho Europeu de Segurança nos Transportes; 3) implementação de ruas escolares, i.e., ruas à volta das escolas com trânsito automóvel cortado ou condicionado, nomeadamente nas alturas de entrada e saída das crianças nos estabelecimentos de ensino, melhorando a segurança rodoviária, o ruído e a qualidade do ar, fazendo aumentar as deslocações a pé e o uso de bicicleta pelas crianças.