Renault 4 elétrico já chegou: testámos o regresso de um clássico

A marca francesa está de acelerador a fundo no reaproveitar ícones do passado para os trazer de volta, numa embalagem retro e com uma alma elétrica. Depois do Renault 5 (à venda), eis o Renault 4 (prestes a chegar aos stands) e, para quem aprecia o conceito, outro projeto vem a caminho: Twingo elétrico (lançamento em 2026).

Esteticamente, o elétrico R4 tem vários traços e soluções de design que fazem a ponte para o clássico da década de 1960:

A reação do público em relação a esta fórmula retro-EV tem sido muito boa (veja-se o R5 e até mesmo o R5 Turbo 3E), pelo que estávamos com bastante expectativa para ver de perto (e conduzir) o novo membro da nostalgia Renault, o 4 E-Tech. A oportunidade surgiu esta semana, na apresentação à imprensa internacional que a marca organizou em Portugal, mais concretamente na zona Oeste.

Uma questão que se colocava é se, para além da diferença do design da carroçaria, há verdadeiras diferenças entre este elétrico R4 do também novo Renault 5 elétrico, dado que ambos são modelos de segmento B, partilham motores e nasceram a partir da mesma plataforma, a AmpR Small. A resposta é sim, há diferenças para lá da estética. E essas diferenças levam a que o R5 e o R4 vão ao encontro das necessidades de clientes diferenciados.

O Renault 4 E-Tech e o R5 partilham a plataforma AmpR Small. São ambos modelos de segmento B, mas com uma identidade diferente.

Em termos de comprimento e olhando para os vários modelos de segmento B que a Renault tem na gama (independentemente da motorização), podemos fazer a seguinte ordenação, do menor para o maior: R5 E-Tech (3922 mm), Clio (4053 mm), R4 E-Tech (4144 mm) e Captur (4239 mm). Ou seja, nesta “contenda”, o R4 é apenas mais pequeno do que o Captur (-95 mm), sendo mais comprido do que os outros dois “primos”, o Clio (+91 mm) e o R5 E-Tech (+222 mm).

Este posicionamento em dimensões faz com que, na comparação entre os dois retro-elétricos Renault (R5 e R4), tenhamos mais espaço no R4 do que no R5. Foi um aspeto que comprovámos na prática: fruto de uma maior distância entre eixos (2624 mm contra 2540 mm do R5), o R4 é mais desafogado para as pernas dos ocupantes traseiros do que o R5 (que atrás é acanhado); o espaço para os joelhos na 2ª fila no R 4 E-Tech é de 16,4 cm, isto é, chega a ser semelhante ao do Captur. A capacidade da bagageira do R4 (375 litros) é também maior do que a do R5 (277 litros). O espaço ao nível da altura da cabeça é bom no R4.

no habitáculo, o R4 vence o R5 na melhor habitabilidade proporcionada aos ocupantes traseiros.

Sabia que…
… o Renault 4 original vendeu 8,1 milhões de unidades nos cinco continentes e em mais de uma centena de países, entre 1961 e 1992, o que faz dele o modelo mais vendido da Renault a nível mundial? O Renault 4 foi fabricado na Europa (Portugal, Bélgica, Espanha, etc.…), na América do Sul (Argentina, Colômbia, Peru, etc.…), em África (Argélia, Marrocos, África do Sul, etc.…) e até na Oceânia. É o quarto automóvel mais vendido de todos os tempos e um ícone cultural internacional.

Isto leva a que o público-alvo preferencial de R5 e R4 possa não ser inteiramente o mesmo: o Renault 5 E-Tech elétrico apela a um público jovem e urbano (e famílias sem filhos), ao passo que o R4 apela às famílias jovens (com filhos) que necessitam de um pouco mais de espaço. O R4 tem lotação para cinco pessoas, mas o quinto passageiro vai viajar apertado. Não nos podemos esquecer que estamos num segmento B e o espaço não estica.

Motores do Renault 4 E-Tech são os mesmos do R5 E-Tech elétrico

No contacto que tivemos, guiámos a motorização de 110 kW/150 cv com 409 km de autonomia anunciada, a qual está também disponível no R5. Na capacidade de resposta deste motor (que é baseado diretamente no motor do Megane E-Tech elétrico e do Scenic E-Tech elétrico), R5 e R4 são equivalentes: os 0-100 km/h são cumpridos pelo R5 em 8 segundos, ao passo que o R4 leva 8,2 segundos.

4 aspetos sobre o R4 elétrico:

1) é o primeiro elétrico Renault a ter o banco do passageiro rebatível (o que dá jeito para transportar um objeto mais comprido, criando um comprimento de carga de 2,20 metros);

2)pode rebocar um atrelado ou uma pequena caravana de até 750 kg, estando equipado com Extended Grip;

3)todas as versões do Renault 4 E-Tech elétrico estão equipadas com jantes de 18 polegadas;

4) e terá uma opção de um amplo teto de abrir em lona (acionado eletricamente), conferindo-lhe um aspeto de verão. Daí o nome Plein Sud, que é também uma alusão ao R4 dos anos 60 e à sua versão Plein Air (ar livre).

Com este motor, o Renault 4 E-Tech elétrico recupera dos 80 aos 120 km/h em 6,4 segundos e a sua velocidade máxima está limitada eletronicamente a 150 km/h. Embora com uma potência modesta, o motor do R4 tem uma resposta q.b. e perfeitamente adequada para as necessidades de uma jovem família ecológica.

No ensaio que fizemos, chegámos a experimentar o Renault 4 E-Tech com três adultos a bordo e o desempenho é também brioso. Em termos dinâmicos, o R4 tem uma postura muito equilibrada, graças ao baixo centro de gravidade e à suspensão traseira multi-link da plataforma AmpR Small. Face ao R5, o R4 é ligeiramente mais confortável.

Bons consumos

No contacto com o Renault 4 E-Tech, guiámos este veículo “blue jeans” em diferentes tipos de percurso (cidade, autoestrada, extra-urbano), ao longo dos concelhos de Lisboa, Sintra e Mafra. Gostámos dos consumos comedidos na casa dos 15 kWh/100 km, isto com um estilo de condução sem preocupações com a poupança de energia e com o pé direito a ser pressionado com vigor. Com uma condução mais regrada, acreditamos que podemos colocar os consumos nos 12 kWh/100 km, o que é um excelente registo. No rolamento em autoestrada, o ruído do vento faz-se notar em unidades que tenham barras de tejadilho.

O modelo tem três níveis de regeneração de energia que podem ser ativados nas patilhas por detrás do volante. Para quem apreciar, o One Pedal está disponível (podendo selecionar-se na patilha dos níveis de regeneração situado do lado esquerdo do volante).

A variante do Renault 4 E-Tech de 110 kW que testámos dispõe de uma bateria de iões de lítio NMC (níquel-manganês-cobalto) de 52 kWh, a qual é composta por quatro grandes módulos numa única caixa. Esta arquitetura simplificada permite uma redução de peso de 30 kg em relação ao Zoe. Em consequência, a bateria pesa agora menos de 300 kg.

Carregadores a bordo

O Renault 4 E-Tech elétrico está equipado com um carregador de 11 kW CA para uma utilização quotidiana e com um carregador de 80 ou 100 kW CC para as deslocações mais longas. Além disso, o carregador de 11 kW CA é bidirecional, para ser compatível com as funções V2L (veículo para a carga) e V2G (veículo para a rede).

Na configuração 110 kW/52 kWh, o Renault 4 E-Tech elétrico inclui um carregador de 100 kW CC para ligação aos pontos de carregamento rápido, nomeadamente nas autoestradas. Os tempos de carregamento são de 4 horas e 30 minutos para uma carga de 11 kW CA (de 10 a 100%) e de 30 minutos com uma carga rápida de 100 kW CC (de 15 a 80%).

Todas as versões do Renault 4 E-Tech elétrico estão equipadas com um carregador bidirecional de 11 kW CA

O Renault 4 E-Tech elétrico está igualmente disponível com um motor de 90 kW (120 cv/225 Nm) e uma bateria de 40 kWh. Neste caso, é fornecido com um carregador de corrente contínua de 80 kW. A autonomia WLTP nesta variante de bateria é de 308 km e os tempos de carga são de 3 horas e 30 minutos em 11 kW CA (de 10 a 100%) e de 30 minutos com uma carga de 80 kW CC (de 15 a 80%).

Quanto custa?

Em termos de preços, o R4 chega aos concessionários a partir de 29.500 euros para a versão de 120 cv (para empresas fica a 23.900 euros). A variante de maior autonomia custa a partir de 33.000 euros (26.800 euros para empresas).

A opinião do Welectric

O Renault 4 E-Tech é um produto bem conseguido. Embora sejamos mais fãs dos traços do R5, apreciamos também o design do R4 E-Tech, ao misturar moderno e passado. Este veículo compacto deixa-se guiar facilmente e garante mais espaço do que o R5 e tem uma habitabilidade adequada para pequenas famílias urbanas (um casal e dois filhos), um pouco na linha do que eram os modelos utilitários da década de 1980. Contudo, essas mesmas famílias que queiram fazer uma viagem mais longa e planeiem ir por autoestrada, terão de ter a noção de que a autonomia do R4 (entre 300 e 400 km) as poderá obrigar a fazer uma paragem num posto rápido. Uma versão com mais autonomia seria, por isso, bem-vinda. A potência dos motores é aceitável para as necessidades do dia-a-dia e os consumos são bons mesmo acelerando um pouco mais.

Por fim e ainda na linha do revivalismo, ficamos a aguardar a chegada quer da versão com capota (Plein Sud), quer a vinda de uma derivação 4×4, mais aventureira, ao espírito do 4L original. O concept 4 Savane já foi exibido e o tema 4×4 está em estudo pela Renault e, pelo tom com que os responsáveis da marca falam do assunto, percebe-se que está bem encaminhado para ser concretizado.

Em linha com o compromisso do Grupo com a economia circular, o Renault 4 E-Tech elétrico tem uma taxa de reciclagem de 88,6%. O Renault 4 E-Tech elétrico integra, igualmente, 26,4% de materiais provenientes da economia circular, nomeadamente metal e vidro, e 41 kg de polímeros reciclados utilizados, por exemplo, sob as portas, no tecido do forro do tejadilho e nos tapetes do habitáculo e da bagageira. Nos níveis de equipamento Techno e Iconic, até 100% do tecido dos bancos é fabricado com fibras recicladas de garrafas de plástico.

Outro aspeto relevante é que 75% dos fornecedores de componentes do modelo estão localizados num raio de 300 km do complexo francês ElectriCity (que incentiva uma produção local para uma menor pegada ambiental). O R4 é montado em Maubeuge, o motor nas instalações de Cléon e o conjunto de baterias em Ruitz, enquanto a bateria propriamente dita entrou em produção na Gigafactory, em Douai.

Renault 4 E-Tech

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