A expansão das linhas ferroviárias de alta velocidade pode apoiar o crescimento das vendas de veículos elétricos e conduzir a aumentos significativos da quota de mercado dos veículos elétricos, sugere um estudo da Universidade da Pensilvânia.
A investigação tem como autor principal o economista Hanming Fang. O documento de trabalho examina o “milagre da adoção de veículos elétricos” na China, que viu as vendas de veículos elétricos aumentarem para 45% do mercado em 2024, em comparação com 25% na Europa e 11% nos EUA.
Os investigadores analisaram o crescimento do sistema ferroviário de alta velocidade da China, que cobre atualmente cerca de 45 mil quilómetros de vias, e a forma como o caminho de ferro pode servir de complemento – e não de desafio – aos veículos elétricos.
A investigação refere que a expansão do sistema ferroviário de alta velocidade impulsionou significativamente o volume de vendas de veículos elétricos, com um aumento médio de 91%, podendo ter contribuído com cerca de um terço da quota de mercado dos veículos elétricos.
Hanming Fang explica a complementaridade existente entre os comboios de alta velocidade e os automóveis elétricos. A questão central, diz Fang, é a preocupação dos condutores com a “ansiedade de autonomia”, ou seja, a preocupação de que os seus veículos elétricos fiquem sem carga em viagens de longa distância. Na leitura do investigador, estes condutores utilizam os seus veículos elétricos principalmente para viagens mais curtas ou para se deslocarem para o trabalho, mas continuam a precisar de transporte para viagens mais longas.
“Com uma alternativa facilmente disponível e fiável, os condutores não enfrentam esse desafio” da ansiedade da autonomia, refere Fang. “Se existirem outras formas de fazer viagens de longa distância – por exemplo, se demorarmos uma hora a ir de comboio de alta velocidade – então não nos preocupamos em utilizar o veículo elétrico para esse tipo de viagem”, afirma.
A solução para remover do horizonte dos cidadãos chineses a ansiedade da autonomia, dizem os investigadores, acabou por ser o comboio de alta velocidade, que transporta os passageiros a uma velocidade entre os 160 e os 200 km/h.
Para responder à questão de saber se as ligações ferroviárias de alta velocidade acelerariam a compra de veículos elétricos, os investigadores analisaram dados mensais sobre as vendas de veículos em 328 cidades. Olharam para os dados das cidades antes e depois de estarem ligadas aos sistemas ferroviários, bem como para os das cidades que nunca tinham sido ligadas. Estudaram ainda outros fatores, incluindo a presença de estações de carregamento de veículos elétricos, o volume de investimentos rodoviários e os efeitos das políticas industriais governamentais, para determinar se afetavam as vendas de veículos elétricos.
Melhor estratégia
A análise revelou que as cidades que foram ligadas mais cedo à rede ferroviária foram também as que registaram o crescimento mais rápido do mercado de veículos elétricos. A melhor estratégia para acelerar a compra de veículos elétricos, concluíram os investigadores, era a combinação de “infraestruturas complementares”, ou caminhos-de-ferro de alta velocidade, e incentivos à compra de veículos elétricos por parte dos consumidores.
“É provável que a ligação entre o crescimento das ligações ferroviárias e as vendas de automóveis não tenha sido intencional por parte dos responsáveis pelas políticas de transportes, mas antes uma ocorrência fortuita”, observa Fang.
No futuro, Fang planeia analisar os efeitos do comboio de alta velocidade noutros aspetos económicos. “É possível viver a 200 km de distância e ir trabalhar para uma cidade – o tempo de deslocação é o mesmo, mas a distância é muito maior. Isso tem implicações nos preços da habitação e na distribuição da atividade económica”, diz Fang.
O sistema ferroviário de alta velocidade da China foi desenvolvido durante a crise financeira global, que começou em 2008, como parte do plano de estímulo económico do país. Nessa altura, a China estava a testar predominantemente veículos elétricos na sua frota de autocarros escolares, em vez de veículos individuais, e estes não constituíam uma parte importante do mercado automóvel.
“Foi uma feliz coincidência”, admite Fang. “Naquela altura, a adoção de veículos elétricos ainda era dispendiosa e as baterias não eram muito fiáveis.”
O sistema ferroviário da China tem caraterísticas únicas, incluindo a sua conetividade nacional – os comboios de alta velocidade servem 96% das cidades com mais de 500 mil habitantes. A rede do país representa mais de 70% da quilometragem de alta velocidade em todo o mundo.
Nos EUA, as famílias mais ricas podem ter um veículo elétrico para viagens curtas e um veículo a gasolina para viagens mais longas, diz Fang. “Esta combinação não está disponível para as famílias menos ricas e não é muito limpa, pelo que as viagens mais longas continuam a ser efetuadas com veículos a gasolina”, afirma. O comboio de alta velocidade, pelo contrário, é mais limpo para o ambiente e mais equitativo, sugere.
Um desafio para países como os EUA é o custo dos terrenos e da construção de infraestruturas, diz Fang. Na China, onde o governo central é proprietário dos terrenos e pode mobilizar projetos de grande escala mais rapidamente, tais empreendimentos são relativamente mais simples.