Werner Vogels
CTO da Amazon

Aqui, ressurge o nuclear como uma solução promissora. Não se trata de regressar a modelos antigos, mas sim de implementar tecnologias de última geração, como os Pequenos Reatores Modulares (SMR). Estes reatores são mais compactos, flexíveis, e de manutenção e gestão mais fácil do que as centrais nucleares tradicionais. Empresas como a Amazon já estão a fazer investimentos significativos nesta área (exemplo: ronda de financiamento de 500 milhões de dólares na X-Energy para desenvolver SMR e o estabelecimento de parcerias com a Energy Northwest para desenvolver SMR no estado de Washington), o que sinaliza uma renovada confiança no potencial desta tecnologia.

A energia como motor da inovação

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A forma como geramos e consumimos energia está a mudar radicalmente. Em 2025, a expansão da energia nuclear e o crescimento contínuo das energias renováveis vão estabelecer as bases para um futuro onde a infraestrutura energética será um catalisador de inovação, e não uma limitação. Esta transformação é inevitável e necessária.

Há dois anos, previ uma vaga de inovação em tecnologias de energia inteligentes, focada em soluções de armazenamento, redes descentralizadas e sistemas de consumo inteligente – Esta previsão face à crise energética global e aos desafios da pandemia – Mas, o panorama evoluiu de forma ainda mais drástica. O surgimento da IA generativa e os passos dados no sentido de uma ampla eletrificação em vários setores – dos transportes à indústria – aumentou significativamente a procura por energia.

Na última década, as energias renováveis, como a eólica e a solar, tornaram-se cada vez mais escaláveis e fiáveis, o que marcou um ponto de viragem na nossa transição para uma produção de energia mais limpa. Algo que tem sido fundamental na redução da nossa pegada de carbono e na descentralização da produção.

Por exemplo, na China, as renováveis representam 37% da capacidade energética total, e até 2028, prevê-se que venham a gerar 42% do fornecimento global de energia. Mas, apesar do rápido avanço e ampla adoção, as renováveis por si só não conseguem satisfazer todas as necessidades energéticas com suficiente rapidez. Para colmatar esta lacuna, é fundamental ter um complemento que funcione diariamente, que seja modular e permanente.

Aqui, ressurge o nuclear como uma solução promissora. Não se trata de regressar a modelos antigos, mas sim de implementar tecnologias de última geração, como os Pequenos Reatores Modulares (SMR). Estes reatores são mais compactos, flexíveis, e de manutenção e gestão mais fácil do que as centrais nucleares tradicionais. Empresas como a Amazon já estão a fazer investimentos significativos nesta área (exemplo: ronda de financiamento de 500 milhões de dólares na X-Energy para desenvolver SMR e o estabelecimento de parcerias com a Energy Northwest para desenvolver SMR no estado de Washington), o que sinaliza uma renovada confiança no potencial desta tecnologia.

A redução temporal brutal – de um ano para um dia – na execução de soldaduras nucleares – possibilitada pela tecnologia de feixe de eletrões local – está a revolucionar os tempos de construção. E as mais recentes inovações na segurança sísmica, como o trabalho desenvolvido pela Agência de Energia Atómica do Japão, vão tornar a energia nuclear uma opção mais segura em áreas propensas a sismos. Ainda mais interessante é a oportunidade que os SMR apresentam para reaproveitar locais existentes já ligados à rede, como centrais a carvão desativadas, o que cria um ótimo atalho para suprir as carências energéticas prementes e descomprimir a rede.

Mas os nossos desafios energéticos vão além da geração; envolvem repensar o consumo. A procura por uma maior capacidade de processamento está a crescer – impulsionada pela adoção generalizada de IA generativa em várias indústrias – e é essencial reconsiderar a forma como os centros de dados consomem energia. Hoje, só os centros de dados dos EUA consomem 4% da eletricidade do país, com projeções que sugerem um aumento para 9% nos próximos cinco anos. A melhor solução é migrar das infraestruturas tradicionais para centros de dados hiperescalávels. Através de uma maior eficiência e economia de escala será possível reduzir o consumo de energia em quase 25%. O próximo passo reside certamente na projeção de centros de dados que funcionem como unidades de consumo adaptável, que ajustam automaticamente o seu uso de energia às necessidades instantâneas da rede. Isto não só otimiza o uso de energia, como aumenta a estabilidade e resiliência da rede da qual todos dependemos.

Esta mudança é efetivamente transformadora e vai exigir mais do que inovação tecnológica; exige uma força de trabalho qualificada, de engenheiros nucleares e maquinistas até especialistas em gestão de rede e cientistas de materiais. Investir em educação, formação e programas de requalificação é igualmente crucial. Este processo vai reconfigurar a economia: criar empregos altamente qualificados, e bem remunerados, e impulsionar a inovação em vários setores. 

Estamos no limiar de uma transformação fundamental no setor energético. As decisões que tomamos hoje, sobre infraestrutura energética, vão moldar não apenas o nosso consumo de energia, mas também o nosso potencial de inovação nas próximas décadas. A energia vai finalmente deixar de ser um obstáculo para se tornar um acelerador do progresso – uma mudança que beneficiará toda a sociedade.

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