O projeto CleanNote visa reutilizar notas desperdiçadas e incorporá-las em membranas para fotocatálise para o tratamento de água ou ar contaminado. Os resíduos de notas são de particular interesse para esta aplicação pois contém até 5% de elementos com potencial para serem explorados no processo de fotocatálise. Adicionalmente, os notas são constituídas por fibras de elevada pureza, que possuem elevada resistência mecânica e química, permitindo transferir para as membranas essas importantes características para a aplicação pretendida.

O desafio “Vamos dar uma segunda vida às notas” foi lançado pelo Banco de Portugal, e o CoLab AlmaScience, um laboratório de investigação colaborativa e aplicada e uma incubadora de tecnologia focada em materiais sustentáveis e eletrónica verde, em colaboração com o CENIMAT/i3N, um centro de investigação da Universidade Nova de Lisboa e laboratório associado apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, decidiu participar com o projeto CleanNote, que foi recentemente anunciado como um dos três finalistas, passando à fase de protótipo.

A equipa do CleanNote é composta por investigadores com competências complementares e experiência e conhecimento nos aspetos essenciais da proposta, incluindo preparação e modificação de materiais renováveis como fibras celulósicas, produção de substratos, e dispositivos fotocatalíticos.

Segundo Diana Gaspar, investigadora do AlmaScience responsável pelo projeto, “o desperdício de notas usadas tem um impacto quer económico, quer ambiental que não pode ser menosprezado, uma vez que têm um tempo de vida limitado devido ao seu desgaste. As notas usadas são regularmente retiradas de circulação sendo trituradas e estes resíduos posteriormente incinerados. Este processo resulta na perda total dos materiais que as constituem (incluindo alguns elementos raros) e numa pegada de carbono notável associada à sua produção. O projeto CleanNote propõe uma abordagem inovadora para tirar proveito das notas usadas, incorporando as fibras que as constituem em membranas de base celulósica para aplicar em fotocatálise.”

Os protótipos serão avaliados pelo júri do concurso – Clara Raposo, Vice-Governadora do Banco de Portugal e presidente do júri; Mónica Alexandra Fernandes, Coordenadora de Área do Departamento de Emissão e Tesouraria do Banco de Portugal; Dália Henriques, Gestora do Sistema de Gestão Integrado da Valora, S.A.; Paulo Ferrão, Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico; Giuseppe Mosele, Principal R&D Expert, Directorate Banknotes do Banco Central Europeu – e submetidos a votação do público. O projeto vencedor, que receberá um prémio de cinco mil euros, será anunciado até ao final do ano.

Do desperdício de notas para uma solução de água e ar limpos

Anualmente, milhões de notas de euro são retiradas de circulação e destruídas (devido ao desgaste). Isto representa mais de 50.000 toneladas de resíduos por ano em toda a Zona Euro, dependendo do método de destruição e das estratégias locais de eliminação.

A quota de Portugal é proporcional à sua população e utilização de dinheiro, estimada aproximadamente em 500 a 1.000 toneladas de notas destruídas por ano. Estas são tipicamente trituradas e comprimidas em briquetes, que são atualmente depositadas em aterros ou incineradas.

As notas de euro modernas são feitas de fibras naturais, tornando-as biodegradáveis e recicláveis. No entanto, uma vez utilizadas e contaminadas, são tratadas como resíduos industriais não perigosos, não sendo facilmente reintegradas em fluxos tradicionais de reciclagem sem processamento adicional.

Reutilizar apenas 10% destes resíduos poderia significar recuperar mais de 5.000 toneladas/ano de fibras de alta qualidade em toda a Europa. Quando combinada com fotocatalisadores em membranas tipo CleanNote, isto abre um caminho de economia circular de alto valor.

Estas membranas podem ser utilizadas para a degradação de antibióticos sob iluminação de radiação ultravioleta, validando o seu potencial para aplicações no tratamento de água ou ar contaminado. Desta forma, o CleanNote apresenta-se como uma alternativa viável à queima dos resíduos de notas. Em vez disso, reaproveita-os em aplicações de alto valor com impacto positivo ambiental e social.

Assim, o CleanNote pretende entregar uma solução técnica e financeiramente viável que integra sustentabilidade, inovação e eficiência operacional, assegurando ao mesmo tempo a criação de valor para o Banco de Portugal.

O CleanNote exemplifica a abordagem da AlmaScience à economia circular e inovação sustentável, ao transformar o que seria tipicamente desperdício em tecnologia ambiental valiosa. Adicionalmente, alinha-se perfeitamente com a missão da AlmaScience de desenvolver materiais funcionais sustentáveis com uma pegada ambiental baixa, transformando materiais naturais e de desperdício em soluções tecnológicas práticas que abordam desafios ambientais enquanto eliminam resíduos e reduzem as emissões de carbono dos métodos tradicionais de eliminação.

Fotografia: AlmaScience

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