Em 2024, os SUV (Sports Utility Vehicles) confirmaram o seu domínio nas estradas europeias. Com 6,92 milhões de unidades vendidas, atingiram uma quota de mercado recorde de 54% — mais do que quadruplicando a sua presença face a 2010, quando representavam apenas 12% do mercado. Este crescimento rápido e contínuo faz dos SUV o segmento automóvel com maior expansão na Europa.

Contudo, este fenómeno de popularidade acarreta consequências ambientais. A crítica central prende-se com o facto de os SUV serem, por definição, veículos maiores, mais pesados e menos aerodinâmicos do que os automóveis de passageiros convencionais. Estas características implicam consumos energéticos superiores — mesmo nos modelos elétricos. No caso dos SUV movidos a motores de combustão interna, isso acarreta maiores emissões de dióxido de carbono (CO₂).

Mais pesados e gastadores, os SUV são um entrave à redução global de emissões de CO₂.

A associação ambientalista Zero, que integra a Federação Europeia de Transportes e Ambiente, alerta que, apesar da crescente presença de híbridos plug-in e elétricos neste segmento, os SUV continuam a ser um dos principais entraves à descarbonização dos transportes na Europa. A emissão média real ponderada de todos os SUV vendidos na UE27 em 2024 é de aproximadamente 159 g/CO₂/km, valor muito acima do novo limite de 93,6 g/CO₂/km que a União Europeia impôs a partir de 2025 para as frotas de veículos novos. “Este desvio significativo afasta o setor automóvel da trajetória de redução de emissões compatível com os compromissos climáticos europeus e internacionais”, afirma a associação.

Se fossem um país, seriam o 5.º maior poluidor do mundo

O problema dos SUV não se limita à Europa. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), no final de 2023 existiam 360 milhões de SUV em circulação no mundo, responsáveis por mil milhões de toneladas de CO₂ emitidas num único ano. Se fossem um país, os SUV seriam o quinto maior emissor de dióxido de carbono do planeta, atrás apenas da China, dos EUA, da Índia e da Rússia — superando inclusive países como o Japão, a Alemanha e o Irão.

Entre 2022 e 2023, os SUV foram responsáveis por mais de um quarto do aumento da procura mundial de petróleo, com o seu consumo a contribuir com cerca de 600.000 barris adicionais por dia.

Este tipo de veículo pesa, em média, entre 200 a 399 kg a mais do que um carro de passageiros equivalente, o que se traduz num aumento de cerca de 20% nas emissões de CO₂ durante a condução. E mesmo os SUV elétricos não escapam às críticas: devido ao seu maior tamanho e peso, consomem mais energia do que os veículos elétricos convencionais e requerem mais matérias-primas, incluindo minerais críticos como lítio, cobalto e níquel para as baterias, que são também maiores.

A resposta política e regulatória

A AIE recomenda que os governos tomem medidas concretas para inverter esta tendência, nomeadamente ajustando as normas de eficiência energética com base no volume dos veículos. Alguns países já começaram a agir: França, Noruega e Irlanda estudam ou aplicam legislação para desincentivar a compra de SUV. Cidades como Paris e Lyon implementaram tarifas de estacionamento mais elevadas para este tipo de automóveis, penalizando o espaço e impacto ambiental que ocupam.

No panorama atual, mesmo com o aumento das vendas de elétricos, o caminho da sustentabilidade automóvel parece cada vez mais dependente de uma mudança de paradigma: abandonar a obsessão pelo “maior é melhor” e apostar em veículos mais leves, eficientes e adequados ao contexto urbano e climático do século XXI.

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