O caminho para o “próximo salto” nas baterias para veículos elétricos (EV) passa cada vez mais pelas soluções de estado sólido. A mais recente validação conjunta da Stellantis e da start-up norte-americana Factorial Energy coloca um novo marco nesse percurso, com resultados técnicos que começam a aproximar esta tecnologia da maturidade comercial.

No centro deste avanço está a plataforma proprietária da Factorial: o Factorial Electrolyte System Technology (FEST). A nova geração de células de estado sólido, agora validadas em formato automóvel (77 Ah), atinge uma densidade energética de 375 Wh/kg — um valor consideravelmente superior face aos 250-300 Wh/kg típicos das baterias de iões de lítio convencionais. Este aumento de densidade traduz-se diretamente em autonomias mais longas e em ganhos de espaço e peso.

A própria Factorial quantifica os ganhos: as suas baterias prometem ser até 40% mais leves e 33% mais compactas do que as atuais baterias de iões de lítio equivalentes. Com isto, a autonomia de um veículo elétrico poderá passar dos habituais 200 a 300 milhas (320-480 km) para 500 a 600 milhas (800-960 km) — um salto que poderá praticamente eliminar a ansiedade de autonomia, um dos principais obstáculos à adoção massiva do veículo elétrico.

Mas não é só na densidade energética que estas células se destacam. A velocidade de carregamento também dá um salto significativo: os testes demonstraram que é possível carregar a bateria de 15% a mais de 90% em apenas 18 minutos, à temperatura ambiente. Este desempenho alia-se ainda a uma robustez térmica invulgar: graças à engenharia de materiais e ao apoio de ferramentas de inteligência artificial no desenvolvimento do eletrólito sólido, a tecnologia FEST consegue operar em temperaturas entre -30°C e 45°C, superando as limitações térmicas que historicamente travaram o estado sólido.

Em termos de potência, as células permitem taxas de descarga até 4C, o que lhes dá margem para suportar maiores exigências de desempenho em veículos de maior potência ou com necessidades de aceleração rápida.

Para a Stellantis, este é um passo estratégico importante. O grupo automóvel — que investiu 75 milhões de dólares na Factorial Energy em 2021 — prepara agora a integração destas baterias num primeiro lote de veículos de demonstração já em 2026. Segundo a própria marca, a colaboração permitiu ainda otimizar a arquitetura dos packs de baterias, reduzindo ainda mais o peso e aumentando a eficiência global do sistema, com reflexos diretos na autonomia e nos custos para o utilizador final.

O CEO da Factorial, Siyu Huang, sublinha o desafio técnico que representa alcançar este equilíbrio: “É relativamente fácil otimizar uma só característica, mas conseguir densidade energética elevada, longa vida útil, carregamento rápido e segurança, tudo num único pacote automóvel validado por um OEM, é uma verdadeira conquista.”

Se a próxima fase de validação em estrada confirmar estes resultados laboratoriais, a tecnologia FEST poderá tornar-se num dos pilares da próxima geração de veículos elétricos de largo consumo, aproximando o estado sólido da tão esperada massificação.

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