Um estudo científico conduzido ao longo de três anos no Grande Vale do Côa demonstra que o pastoreio em liberdade por cavalos semisselvagens, como o cavalo Sorraia, pode ter um impacto positivo significativo na prevenção de incêndios florestais e na regeneração da biodiversidade.
A investigação, publicada na revista Frontiers in Ecology & Evolution, contou com a colaboração da Rewilding Portugal, Universidade de Lisboa, Rewilding Europe e o Hill and Mountain Research Centre (Escócia), e analisou os efeitos da presença contínua destes grandes herbívoros em áreas abandonadas do interior norte.
Rewilding: a natureza a cuidar de si própria
O conceito de rewilding, ou renaturalização, baseia-se na restauração ativa de processos ecológicos, promovendo o regresso de espécies-chave como os cavalos selvagens ou cavalos semisselvagens a territórios onde estavam ausentes há décadas.
Segundo a Rewilding Portugal, que coordena projetos de conservação e regeneração ecológica na região desde 2019, a introdução dos cavalos Sorraia — uma raça portuguesa com forte simbolismo — tem transformado o mosaico paisagístico em áreas como o Vale Carapito e o Ermo das Águias.
Menos vegetação inflamável, mais biodiversidade
Os resultados do estudo revelam que os cavalos ajudam a manter a vegetação rasteira sob controlo, reduzindo assim a carga de combustível disponível para fogos florestais de grande escala. Ao mesmo tempo, o seu pastoreio promove a diversidade de habitats e a disseminação de plantas com flor, essenciais para polinizadores.
Além disso, os investigadores notaram um aumento na matéria orgânica do solo, sinal de ecossistemas mais saudáveis e resilientes.

Apesar do impacto limitado sobre a vegetação lenhosa, o estudo sugere que a combinação de diferentes herbívoros — como gado bovino, veados ou cabras selvagens — pode potenciar ainda mais a eficácia do controlo de vegetação e o equilíbrio ecológico.
Cavalos como agentes de turismo e conservação
Além do valor ecológico, a presença de cavalos icónicos como os Sorraia pode ser também uma alavanca para o turismo de natureza, atraindo visitantes interessados em paisagens selvagens e espécies emblemáticas.
A Rewilding Europe, organização-mãe da Rewilding Portugal, tem vindo a aplicar este modelo de reintrodução de grandes herbívoros em várias zonas do continente, reforçando o papel da natureza como aliada na adaptação às alterações climáticas e na revitalização de zonas rurais despovoadas.