O sul da Europa está a ser varrido por uma onda de calor de intensidade e extensão inéditas, com impacto direto em 12 países e consequências que vão de incêndios a mortes por insolação. Em Portugal, os termómetros chegaram aos 46,6°C em Mora (Évora), um valor próximo do recorde absoluto nacional, enquanto uma rara “nuvem rolo” impressionou o litoral, resultado de instabilidade atmosférica provocada pelo calor extremo.

A vaga de calor levou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) a colocar sete distritos em aviso vermelho – o mais grave da escala meteorológica – até terça-feira. Os restantes distritos mantêm-se sob avisos laranja e amarelo. O fenómeno agravou o risco de incêndios e levou ao reforço de meios de proteção civil em várias regiões do país.

estes fenómenos estão a tornar-se mais frequentes, intensos e duradouros por força das alterações climáticas

No mar, os sinais não são menos preocupantes. Segundo dados do programa europeu Copernicus, validados pela Météo-France, a temperatura superficial do mar Mediterrâneo atingiu uma média de 26,01°C, a mais elevada alguma vez registada. O valor, descrito como “sem precedentes”, confirma o impacto do aquecimento global nos ecossistemas marinhos, com efeitos diretos na biodiversidade e na frequência de fenómenos meteorológicos extremos.

França e Espanha batem recordes

Em França, 84 dos 95 departamentos metropolitanos estavam esta segunda-feira em alerta laranja. O país registou a noite de junho mais quente desde que há registos, e Paris prepara-se para entrar em alerta vermelho na terça-feira, juntando-se a Roma e Milão. A ministra da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, sublinhou o carácter “sem precedentes” da extensão geográfica do fenómeno.

Já em Espanha, a estação meteorológica de Huelva bateu no sábado um novo máximo histórico para junho: 46°C, ultrapassando os 45,2°C registados em Sevilha em 1965. Dois trabalhadores rodoviários morreram no sábado, alegadamente por insolação, levando os sindicatos a exigir medidas urgentes de proteção laboral em contexto de calor extremo.

Itália em alerta vermelho

Em Itália, 17 cidades — incluindo Roma, Milão, Florença e Verona — estão em alerta vermelho decretado pelo Ministério da Saúde. Bolonha instalou “abrigos climáticos” e Ancona distribuiu desumidificadores à população mais vulnerável. Os incêndios florestais obrigaram à evacuação de milhares de pessoas no sul do país, e uma mulher morreu em Potenza, vítima de inalação de fumo.

Balcãs, Reino Unido e Turquia também atingidos

Nos Balcãs, Croácia, Montenegro e Sérvia enfrentam temperaturas acima dos 35°C, seca extrema e risco elevado de incêndios. A Turquia evacuou mais de 50 mil pessoas em 41 localidades devido a fogos florestais fora de controlo.

Até o Reino Unido foi afetado, com cinco regiões em alerta âmbar no arranque do torneio de Wimbledon. As autoridades de saúde britânicas alertaram para o impacto do calor elevado em populações vulneráveis.

Um verão que já está a aquecer a História

“Esta é uma das ondas de calor mais fortes do verão e destaca-se pela sua duração particularmente longa”, afirmou o meteorologista italiano Antonio Spano à AFP. Cientistas alertam que estes fenómenos estão a tornar-se mais frequentes, intensos e duradouros por força das alterações climáticas — e que o continente europeu, especialmente a sua faixa sul, está na linha da frente deste novo normal climático.

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