Durante anos, o hidrogénio foi apresentado como a peça que faltava no puzzle da mobilidade sustentável. Limpo, abundante, tecnológico — tudo indicava que teria um papel determinante no futuro do automóvel. Mas esse futuro tarda em chegar. E os números mostram-no com clareza: em 2024, as vendas de veículos a hidrogénio voltaram a cair a nível mundial, ao mesmo tempo que o mercado dos elétricos a bateria atingiu um novo máximo.
17 milhões de elétricos, 12 mil a hidrogénio
Segundo o mais recente relatório do instituto alemão ZSW, em 2024 foram vendidos 17,4 milhões de veículos 100% elétricos (BEV), um crescimento de 17% face ao ano anterior. O número total de automóveis elétricos em circulação no mundo ultrapassou assim os 55 milhões (55,8 milhões mais concretamente).
No mesmo período, o mercado dos veículos a célula de combustível de hidrogénio encolheu novamente: estima-se que tenham sido vendidas cerca de 12 mil unidades em todo o mundo. Para comparação, isso representa menos do que as vendas mensais de alguns modelos elétricos de sucesso, como o Geely Geome Xingyuan — que só em maio registou quase 39 mil unidades vendidas, apenas na China.
Posição marginal
Apesar de alguns investimentos em curso — sobretudo no setor pesado, como camiões e autocarros —, o hidrogénio permanece numa posição marginal no transporte ligeiro. Os elevados custos de produção e distribuição, a escassez de postos de abastecimento e a concorrência de tecnologias mais eficientes têm dificultado a sua afirmação comercial.
Enquanto isso, o veículo elétrico a bateria ganha escala, variedade e competitividade. De alternativa passou a tendência dominante. E, para já, o futuro da mobilidade parece mais ligado à tomada do que ao depósito de hidrogénio.
China na frente, Europa a perder ritmo
Segundo as contas do instituto alemão ZSW, a China lidera destacada o mercado global de veículos elétricos, com 11,3 milhões de novos BEV vendidos em 2024 — mais do que EUA e União Europeia juntos. O país asiático não só representa mais de metade da frota elétrica mundial como domina também a produção e a inovação no setor.
Na Europa, o ritmo de crescimento abrandou, em parte devido ao fim de incentivos fiscais em países como a Alemanha, onde o mercado encolheu 18% em 2024, depois de uma queda de 16% no ano anterior. Ainda assim, a UE contabiliza já mais de 2,6 milhões de veículos elétricos em circulação.
Um caso à parte continua a ser a Noruega, onde os elétricos representaram 80% das novas matrículas em 2024 — um resultado de políticas de incentivo estáveis e abrangentes, que incluem isenção de IVA, benefícios fiscais e acesso a infraestruturas privilegiadas.
Fabricantes chineses dominam a tabela
Se outrora o protagonismo estava do lado dos construtores europeus ou americanos, hoje os grupos chineses ocupam seis das dez primeiras posições no ranking mundial de vendas de elétricos. BYD, Geely, SAIC, Changan, Li Auto e Seres estão a redefinir a concorrência, com propostas para todos os segmentos e preços.
Volkswagen, Mercedes e BMW continuam na lista dos maiores vendedores, mas com volumes bastante inferiores. A Tesla mantém a segunda posição, com um total acumulado de 7,3 milhões de veículos vendidos, mas é a BYD que lidera, com mais de 10 milhões de unidades entregues.