Portugal ainda não está a conseguir acompanhar o ritmo exigido pela Europa na recolha e reciclagem de equipamentos elétricos. Os dados divulgados pelo Electrão, no âmbito do Dia Internacional dos Resíduos Elétricos (14 de outubro), mostram que em 2024 foram recolhidas cerca de 57 mil toneladas de equipamentos usados, um valor muito abaixo da meta europeia, que exige recolher o equivalente a 65% dos produtos colocados no mercado – cerca de 150 mil toneladas anuais, ou 15 quilos por habitante.

Nos primeiros seis meses de 2025, o Electrão registou um aumento de 57% face ao período homólogo, com mais de 20 mil toneladas recolhidas e recicladas. Ainda assim, os números continuam insuficientes para garantir o cumprimento das metas europeias.

“É essencial envolver todos os agentes da cadeia de valor — tutela, cidadãos, municípios, retalhistas, operadores de tratamento e empresas”, afirma Ricardo Furtado, diretor-geral de Elétricos e Pilhas do Electrão.

O problema começa em casa

Grande parte dos equipamentos fora de uso continua guardada em casa ou depositada no lixo comum. Esse comportamento impede a valorização dos materiais e a sua descontaminação adequada, comprometendo a eficiência do sistema.

Entre 14 de outubro e a Semana Europeia da Prevenção de Resíduos (22 a 30 de novembro), o Electrão vai promover ações de sensibilização junto de escolas, municípios e outras entidades. O programa inclui a exibição do documentário Para Onde Vai a Reciclagem, campanhas de recolha, conteúdos educativos e jogos dedicados à separação e valorização dos equipamentos elétricos. O objetivo é reforçar a informação e a responsabilidade individual: cada aparelho elétrico fora de uso representa uma oportunidade perdida de recuperar materiais valiosos e reduzir emissões.

Além disso, o mercado paralelo de resíduos elétricos continua a desviar milhares de toneladas do circuito formal. Muitos equipamentos são recolhidos e tratados como sucata metálica, sem respeitar normas ambientais. O Electrão sublinha que a falta de fiscalização e rastreabilidade agrava o problema.

Um estudo do projeto WEEE Follow, com GPS instalados em equipamentos descartados no canal municipal, mostrou que três em cada quatro unidades foram desviadas do circuito oficial.

“A fiscalização tem que modernizar-se. Só com uma ação mais interventiva e dissuasora será possível mudar este cenário”, acrescenta Ricardo Furtado.

Uma questão estratégica para a Europa

A recuperação de resíduos elétricos tem hoje uma importância que ultrapassa o tema ambiental. Está em causa o acesso a matérias-primas críticas — como lítio, cobre, alumínio e cobalto — fundamentais para a transição energética e digital europeia.

De acordo com o relatório Critical Raw Materials Outlook for Waste Electrical and Electronic Equipment, divulgado pelo WEEE Forum e elaborado no âmbito do programa europeu Horizonte Europa, os resíduos elétricos descartados anualmente na Europa contêm cerca de 1 milhão de toneladas de matérias-primas críticas.

Atualmente, a União Europeia depende de países terceiros para 90% desses materiais e recupera apenas 1% internamente. O novo Regulamento Europeu das Matérias-Primas Críticas, aprovado em 2024, estabelece que 25% da procura anual deverá ser satisfeita por via da reciclagem até 2030.

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